Atirei-me à água, desviando-me por pouco da prancha que voara, impulsionada pela onda.
- Devias definir a tua zona de segurança: um perímetro onde deixes de tentar matar-me! - exclamei, rindo-me.
Dante, Jessica e Amanda também se riram. Ele demorou cinco dias a pedir para que o ensinássemos a fazer surf. Mas o rapaz não tinha lá muito jeito para aquilo. Nadou para ao pé de mim e ajudei-o a subir para a prancha. ele olhou para o mar.
- Acho que é melhor pararmos por agora. Não arda e o Sol já se põe. - comentou.
Encolhi os ombros e mergulhei. Mantive-me tanto tempo debaixo de água quanto o que conseguia. Ouvia o som abafado e borbulhante das ondas que passavam por mim. O chapinhar das raparigas a nadarem em direcção à costa. Aqui, eu estava no meu mundo. Isolado de tudo. Os raios de sol iluminavam as rochas do leito marinho que eram cobertas aqui e ali com alguma areia. Foi então que os vi. Subi rapidamente à superfície.
- Dante, tens de mergulhar para ver isto! - disse, entusiasmado.
Ele olhou para mim. Depois, virou-se para a superfície da água. Um deles pôs a cabeça de fora para respirar. Dante observou, admirado, o seu corpo afunilado, de tons castanho-acinzentados, ágil e rápido.
- Leões-Marinhos da Califórnia. - Informei, sorrindo.
Dante mergulhou, enquanto eu subi para a prancha. Naquele local, onde as águas eram profundas, os Leões-Marinhos costumavam brincar animadamente. Dante vinha de vez em quando à superfície, fascinado com o que via. Mas eu já me mantia atento, perscrutando a superfície. O meu coração começou a bater mais depressa. Dante voltou de novo à superfície, à minha direita, e chamei-o.
- Ouve-me com atenção: podes brincar com eles, mas, se eu te gritar, vens para cima da prancha assim que me ouvires, entendes-te?
A minha voz soava grave e séria. O rapaz pareceu ficar assustado.
- Porquê? - Interrogou.
- Não te preocupes, é só por precaução, eu explico-te depois quando sairmos da água. - comentei, forçando um sorriso.
Ele encolheu os ombros e mergulhou de novo, desta vez com mais cuidado. Senti algum movimento Lá à frente, a aproximar-se. Não vi o que era. A adrenalina começou a correr. Olhei para trás, para a costa. As pessoas estavam a sair da água. Algo estava errado. Vi Jessica e Amanda, que abanavam os braços no ar, desesperadamente, fazendo sinal para que fossemos para a areia. Uma brisa transportou aquela palavra tão temida que se ouvia ao longe. Olhei à minha volta, procurando por Dante.
- Dante!!! - Gritei.
Ele subiu de novo à superfície. Parecia já ter esquecido o que eu lhe dissera.
- Vamos embora! - Ordenei.
- Já, porquê?
Olhei de novo para trás. Nunca conseguiríamos chegar à costa. Não antes de ele chegar até nós. Entrei cuidadosamente na água. Dante olhou-me.
- Que se passa? - Perguntou.
De novo, a brisa embalou a palavra que, para nós era sinónimo de medo, terror, pânico, morte.
- Tubaraão!
Como que respondendo ao chamamento, a barbatana dorsal ergueu-se na água, a alguns metros nós. Depois, voltou a aparecer, rondando-nos. Estava a nadar à nossa volta, escolhendo a presa. Os Leões-Marinhos já haviam desaparecido. Eu e Dante éramos as únicas presas presentes. Ele olhou para mim aterrado. Fiz-lhe sinal para esperar um pouco e mergulhei, tentando observá-lo. Era maior do que eu pensava. Um Tubarão-Branco. A avaliar pelo tamanho, devia ter uns quatro metros de comprimento. Era um macho adulto. Os seus olhos negros fitaram-me. Ele virou costas. Estava a começar a nadar para longe. Mas eu não confiava nele. O mega-predador não estava a fugir nem a ir-se embora. Eu sabia que ele estava só a criar espaço para ganhar velocidade de investida. Mas talvez isso nos desse tempo. Subi à superfície.
- Dante, ouve com atenção. - instruí, rapidamente. - Ele vai voltar. Vamos nadar até às rochas que ali estão e tenta subir o mais rápido possível. Nada abaixo da superfície para ele te ver e saber que não és uma foca. Usa braçadas vigorosas, dá aos braços e às pernas, mas, faças o que fizeres, não chapinhes! Ele vai pensar que estás ferido e a querer sair da água e vai atacar-te se chapinhares.
Olhei de novo para o Grande Tubarão-Branco. A barbatana dorsal fora de água. Consegui perceber que ele se estava a virar de novo para nós.
- Vai! - ordenei, empurrando-o em direcção às rochas.
- E tu?! - Perguntou, em pânico.
- Já lá vou ter, vai!
Ele mergulhou. Vi-o logo abaixo da superfície, a nadar em direcção à salvação. Eu agarrei na prancha e fui nadando lentamente, agarrando a prancha com uma mão. Subi para cima dela. Eu sabia que, se o conseguisse atrair, o tubarão demoraria a fazer uma nova investida. Ouvia os gritos na costa. O tubarão nadou em direcção a Dante. Comecei a chapinhar, tentando atraí-lo. Eu sabia que os tubarões confundiam muitas vezes os surfistas com leões marinhos devido à forma das pranchas. Desta vez ia usar isso a meu favor. Resultou. Vi o predador virar-se na minha direcção. Mas vinha mais rápido do que eu pensei. Pus-me em pé, em cima da prancha, pronto a mergulhar. O meu cérebro imaginava todos os cenários possíveis a cem à hora. O meu coração cavalgava como um cavalo de corrida. Foi então que se deu o choque. Muito mais forte que eu alguma vez poderia imaginar. As minhas pernas atiraram-me para cima. Vi a boca serrilhada do animal partir a prancha. O seu gigantesco corpo embateu no meu, atirando-me à agua. Fiquei um pouco atordoado, mas recuperei e nadei até ás rochas. Quando cheguei, tentei subir. Ouvia a voz incompreensível de Dante a chamar por mim. Tentei subir a rocha. O meu pé e as minhas mão escorregaram. a mão de Dante agarrou-me. O meu corpo balançou, senti a minha testa e o meu peito esmagarem-se contra a rocha negra e dura. E tal como a rocha, a minha visão ficou negra.
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