terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Na Crista da Onda - Capítulo 6

Abri a porta e o pânico dominou-me. Rezei para que Dante se mantivesse no quarto. Abracei-os e tentei sorrir.
- Pai... Mãe... - Gaguejei.
Até eu conseguia perceber a nota de surpresa comprometida na minha voz. Eles passarama por mim. Espreitei para o cimo das escadas, à minha esquerda. A cabeça de Dante apareceu. A sua cara contorceu-se de terror quando se apercebeu de quem havia chegado. Agitei a mão para o fazer voltar lá para dentro.
- Queriamos surpreender-te, mas não penámos que ficasses tão surpreso...Não me digas que deste uma festa doida enquanto estivemos fora... - repreendeu o meu pai.
- ha-ha-ha... - ri, seca e fingidamente. - Claro que não.
- De alguma forma não acho as tuas palavras convincentes... de todo. - desafiou a minha mãe.
- Que é que estão aqui a fazer tão cedo, pensei que só voltassem daqui a dois dias... - comentei, tentando desviar o assunto.
- Fizemos uma pequena pausa... E vai-te vestir, bebé, por favor, que vamos dar uma volta... - suplicou  minh mãe.
Era a minha deixa. Corri para o quarto. Dante não estava à vista. Ele apareceu por trás de mim, escondido atrás da porta.
- Cristo, não me digas que não contaste aos teus pais que és gay... - Exclamou, numa voz esganiçada.
- Dante, nem eu sabia até te conhecer! - informei-o.
Ele pareceu surpreendido com a revelação. Eu nunca pensara muito na minha sexualidade. Era algo que eu mantinha como garantido, como quase toda a gente. Mas nunca tivera uma namorada. Nunca achara isso estranho, não gostar de nenhuma rapariga. A minha paixão eram o mar e o surf. Olhei para Dante de repente, com os olhos esbugalhados.
- Oh, a tua roupa está na máquina, a mãe costuma por sempre roupa a lavar quando chega!- Lembrei-me.
Estava prestes a correr para a lavandaria, quando esbarrei com o meu pai, quase o atirando ao chão.
- Filho! Para quê tanta... Dante?
O meu coração falhou um batimento. Ouve Dante aspirar o ar entre os dentes, como se algo o tivesse picado.  O meu pai ergueu uma sobrancelha. Era a expressão que ele fazia quando estava intrigado. Ele sabia sempre quando eu estava a esconder alguma coisa e o que é que eu estava a esconder. Olhei para ele, suplicante. Ele trincou o lábio.
- Há algo que me querias contar a mim e à tua mãe...?
Passei a mãe pelo cabelo. Estava a começar a entrar em pânico. Eu não estava pronto para lhes contar. Caramba, eu mal me conseguia aceitar a mim mesmo naquele momento, quando mais contar a alguém o que se passara segundos antes.
- Oh, Sr. Fisher, eu ontem embebedei-me demais... Os meus pais não estavam em casa e o Kyle trouxe-me para aqui. - contou ele. - Mas eu não me senti bem e... Bom, deitei tudo fora para cima de nós, quando ele me estava a transportar até ao quarto. Ele foi simpático e deixou-me dormir aqui.
Por alturas do início da narrativa, a minha mãe também já aparecera com as roupas de Dante na mão, pronta a fazer-me perguntas.
- Ah, então sempre foste a uma festa. - Comentou o meu pai.
Encolhi os ombros. Algo me dizia que ele não estava muito convencido. Mas, tecnicamente não lhe mentimos. Apenas ocultamos pormenores que talvez ele não estivesse pronto para ouvir... Isso não era errado... Pois não?
Dante pegou na roupa que a minha mãe lhe estendia e começou a vestir-se. Os meus pais foram para o andar debaixo e eu sentei-me na cama, suspirando de alívio.
- Não estava à espera que eles chegassem tão cedo... - Afirmei.
Senti-o mexer-se por trás de mim, e envolveu-me com os braços, pousando o queixo levemente no meu ombro, dando-me um beijo na face.
- Pois...
- Obrigado por me teres dado apoio há pouco... - agradeci, olhando-o nos olhos.
Ele parecia um pouco triste.
- Eu compreendo que não te sintas pronto para lhes contar... Mas algum dia terás de o fazer... Lembro-me que quando disse aos meus pais que sou homossexual, eles não aceitaram muito bem, no inicio. Mas acabaram por aceitar, eventualmente.
- De alguma forma isso não me tranquiliza muito. - Repliquei.
Ele beijou-me levemente.
- Confia em mim. Eles são teus pais e amam-te, sejas como fores.
Sorri. Ele conseguia sempre usar as palavras certas.
- Queres vir connosco? - Perguntei.
- Mmm... Sim, mas convém passar primeiro por casa, para avisar a Jessie de que estou bem.
Voltei a beijá-lo, dirigindo-me ao armário para me vestir também. Podia até sentir-me um pouco inquieto com o facto de não saber como os meus pais reagiriam se o único filho que estava vivo era gay, mas nada se comparava à felicidade enturpecedora que eu sentia quando estava por perto de Dante.

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