quinta-feira, 31 de março de 2011

A Maldição - Capítulo 1

Luís Afonso observou o ostentoso palácio real. Ali, dentro daquelas paredes ricamente ornamentadas, abrigava-se da chuva do inverno o Rei de Portugal e dos Algarves. Correu para a entrada. Um criado estendeu-lhe a mão, recebendo a sua jaqueta. Ele continuou o seu caminho pelo largo corredor, descalçando as luvas brancas e colocando-as no bolso do seu colete. Um homem de cara idosa, quase careca, envergando vestes vermelhas típicas caminhava na sua direção. Era o cardeal que regira o Reino aquando a menoridade de seu sobrinho-neto Sebastião.
- Cardeal D. Henrique, como passais? - Cumprimentou Luís Afonso, carinhosamente tratado por Afonso pelo Cardeal.
- Oh, meu filho, indo vou. E vós, que novas trazeis do Porto? - Respondeu o idoso.
- Meu pai continua a queixar-se do reumatismo e minha mãe por lá ficou para o alentar. E por cá pela grande Lisboa, que novidades há?
- Nenhumas. O mesmo de sempre. Sua Majestade continua querendo a conquista aos mouros... - Luís Afonso sorriu ao compreender o entoamento irónico do título que dava ao seu sobrinho.
- Nobres fins, arriscados meios: como sempre digo.
- E com muita razão o dizeis. - Exclamou o cardeal. - Bom, e como tal peste bem precisa, lá vou eu dar a missa das onze para rezar por alma de monarca perdido daquele jovem... Que Deus te abençoe e acompanhe sempre, meu filho.
Luís Afonso despediu-se com um sorriso e um vivo "igualmente", e continuou a caminhar pelo palácio, dirigindo-se ao salão do trono. Sebastião lá estava sentado na cadeira dourada e vermelha.
- Ora, como ides, meu querido banqueiro real?! - Cumprimentou o Rei, jovialmente.
- Bem, como sempre, Vossa Excelência. - Respondeu Luís, fazendo uma vénia.
- Então, seu pai está melhor? - Interrogou o rei.
- Não. De facto ainda está pior. - Queixou-se ele. - Mas esperanças não me morrem de que ele melhore em breve.
- Também espero que tal se suceda. Agora, meu amigo, há algo que vos queria perguntar. - Comentou o monarca. - Como sabeis, já começo a  juntar as tropas para marchar sobre os mouros em África, e data já eu tenho marcada.
- Cristo ajude o reino! - Exclamou. - Vós estais bom da cabeça? Parece que tendes estado a respirar vapores de tulipas, meu amado Rei.
Sebastião riu-se sonoramente com o comentário do seu amigo.
- Não, de todo, Luís Afonso. Mas certo é que daqui por menos de um ano, no mês de Agosto, estarei eu cabeceando a armada portuguesa, em Alcácer-Quibir, para libertar aquela terra dos profanos muçulmanos.
- Falais com a paixão de Camões... - comentou Luís Afonso. - Não será que as rimas desse epopeico poeta vos tenham subido à cabeça?!
Sebastião relembrou Luís Vaz de Camões, lendo-lhe Os Lusíadas em voz alta, naquela mesma sala, cinco anos antes.
- Talvez tenham, talvez não. Mas assim como meus antepassados, começando em Afonso Henriques, conquistaram Portugal e os Algarves aos mouros, também eu tenciono ganhar mais terras para o reino. E tal assim está decidido, seja como Deus quiser. Que fique escrito, a quatro de agosto, um reino se expandirá, ou um rei tombará, de acordo com os desígnios do Senhor de Cristo Redentor.
Luís Afonso decidiu não discutir mais com o Rei, e seguiu uma jovem criada até ao seu aposentos, relembrando os tempos em que Vaz de Camões caminhara por aqueles mesmos corredores.

A Maldição - Personagens

Personagens:
D. Sebastião I, Rei de Portugal e dos Algarves.
Jovem, aventureiro, tem o sonho de marchar pelo seu país contra os Mouros. Ri-se face ao perigo e pouca atenção toma aos conselhos dos que o rodeiam.

Carlos Jorge de Avis
Um jovem que pertence à corte Portuguesa. Os seus pais são dados como mortos, assassinados. É tudo o que se sabe sobre as suas origens, para além de que os seus pais eram nobres ricos, que viviam juntamente com a corte do Rei. Sebastião, tal como o seu antecessor e avô, D. João III, acolheu Carlos João na sua residência e tornou-se seu amigo. Tem a estatura média, cabelos castanhos, olhos cor de chocolate

Luís Afonso Mendonça
Banqueiro, descendente de família nobre, convive com as cortes do rei desde a  sua mocidade, e sempre foi bem-vindo pelo Rei Sebastião. Calculista e preocupado, tenta sempre fazer o melhor negócio com os seus clientes que o beneficíe não só a ele, como também ao próximo. Tem os cabelos negros e os olhos azuis.

D. Filipe II de Espanha
Quando vê o seu país cair num caos financeiro, tenta arranjar estratégias para obter mais poder, o que inclui ganhar domínio sobre Portugal. Um acto desesperado leva a consequências devastadoras.

Henriqueta Eduarda
É uma das criadas do Palácio do Rei Sebastião, e uma amiga de Carlos. É a filha da aia de Carlos Jorge, e sabe mais do que aparente. é uma rapariga calada, mas observadora. Os seus cabelos são dourados e os seus olhos são verdes.

Madame Voilenne
De cabelos negros, face envelhecida com o tempo, lhos cinzentos, é uma mulher intrigante e poderosa.

Catarina e Fernando Mendonça
São os pais de Luís Afonso.

Cardeal D. Henrique
Tio-avô de D. Sebastião.

quarta-feira, 30 de março de 2011

A minha Melodia - Epílogo

A agitação do final do ano era aumentada pelos nossos nervos. Estávamos prestes a iniciar o duelo de final de ano entre os clubes de performance. Eu estava terrivelmente assustado. 
- Não precisas de ter medo do palco. - acalmou-me Dani, beijando-me a face. 
- E se eu falhar uma nota? - Perguntei preocupado. - E se caio no palco? E se não gostarem da minha voz? E se eu me esquecer da letra? E se eu... 
- E se tu te preocupasses apenas em te divertir, como me ensinaste? - Cortou, segurando-me ambas as mãos. - O que importa é senires-te bem em cima do palco, não se ganhamos ou perdemos. 
Eu sirri-lhe em agradecimento, beijando-o. 
- Break a leg! - desejou, sorridente, no seu inglês perfeito. 
Julie foi a primeira a actuar. A guitarra iniciou, e ela seguiu-se. 
- I've been awake for a while now. You've got me feeling like a child now. 'Cause everytime I see your bubbly face, I get the tingles in a silly place. It starts to my toes and I crinkle my nose, wherever it goes I always know that you make me smile, please stay for a while now, just take your time, wherever you go...
Os alunos agitava, lenta e nostalgicamente os braços no ar, ao ritmo da música. 
Quando ela acabou, todos bateram palmas, incluindo eu. Ela tinha talento. De seguida foi a vez de Daniel. Ele passou por mim, dizendo que me dedicava aquela música. A batida começou e eu acompanhei-a.
Live my life around a picture taken when we met. Spending all of my time chasing your silhouette. For all we go through, I don't wanna change you. It's my mind running in reverse, trying not to forget who we were, where it's at, here we go... And we break, and we burn, and we turn it inside out to take it back to the start, and through the rise and falling apart, we discover who we are.
O público saltava ao ritmo do refrão, contagiados com a música e com a energia de Dani em palco. A actuação seguinte era de um rapaz do Clube de Música e Teatro. Nunca o tinha ouvido cantar, mas Daniel pareceu preocupado quando o viu. O piano começou a tocar e eu pedi por um buraco para me esconder. 
- [mcr - welcome to the black parade] 
Ele subiu para cima do piano, enquanto cantava. Antes do início dos primeiros versos do refrão, deu um mortal, aterrando no chão, e dançando enquanto cantava. Nenhum de nós conseguia fechar a boca. Quica passou por mim. 
- Deixem este marmelo comigo. - Sibilou, após terminar a música. 
A bateria começou e Quica arrasou. 
The question asked in order to save her life or take it, the answer no to avoid death, the answer yes would make it. Ma-ake it... "Do you believe in God?" written on the bullet, say yes to pull the trigger. "Do you believe in God?" written on the bullet and Cassie pulled the trigger!Ela mexia-se pelo palco, sem que lhe faltasse o ar apesar de correr e saltar e incentivar o público a acompanhá-la. 
Depois de Quica, outra rapariga foi cantar. A sua interpretação da The Way I Am, da Ingrid Michaelson cativou a audiência, tanto das pessoas que assistiam, como daquelas que se encontrava, nos bastidores do palco. 
Finalmente, era chegada a minha vez. A bateria começou a marcar o compasso. Peguei na guitarra que eu tanto estimara desde pequeno. Era a primeira vez em seis anos que tocava nela. Era de madeira envernizada. Nas bordas, era castanha, que se ia transformando em vermelho até ao centro, onde se tornava preta. 
- It may not be the best one, It may not be like the rest of 'em. But she makes it sound so sweet, the melodies she makes it's saying. On her red guitar, the color never fades away no matter where she has it placed, and my life would change when I saw the face of her red guitar
Quando voltei aos bastidores, ainda ouvia as pessoas a bater palmas. Daniel beijou-me como prémio. 
Pouco depois, estavam os dois grupos em palco, cada um de seu lado do director da academia. Ele abriu um envelope, e anunciou o vencedor. 
- E tenho o prazer de anunciar, que o vencedor do Duelo Anual de Grupos de Performance Da Academia Das Nove Artes deste ano é...


Fim

terça-feira, 29 de março de 2011

A Minha Melodia - Capítulo 10

Depois desse dia, Dani parecia ter-se desvanecido no ar. Voltei a vê-lo algumas vezes na rua, mas sempre que estava quase a chegar perto dele, ele desaparecia. 
- Não disseste que era a primeira vez que ele se tinha apaixonado por um rapaz? - Perguntou a minha tia, uma semana depois de eu lhe ter contado o que se passara. 
- Sim... - Confirmei. 
- Provavelmente está confuso e com medo. - Comentou. 
Olhei para o relógio. 
- Ah! Tenho de ir! - Exclamei. 
- Credo, o CAP pode esperar um pouco por ti, não? 
Não respondi, pois já estava mesmo a sair de casa. Os 15 alunos que compunham o grupo tinham combinado ir naquele dia cantar pelas ruas. 
Cheguei mesmo a tempo. Speedy já estava a cantar o início da música. 
- Listen up! The future is bullet proof, it's time to do now and do it loud. Killjoys, make some noise! 
- Na na na na na na - Cantou o coro, acompanhado pelo público.
- Drugs, gimme drugs, gimme drugs, I don't need it, but I'll sell what you got, take the cash and I'll keep it eight legs on the wall. Hit the gas, kill 'em all and we crawl and we crawl and we crawl! You be my detonator! Love, gimme love, gimme love I don't need it but I'll take, what I want from your heart and I keep it in a bag, In a box, put an x on the floor, gimme more, gimme more, gimme more! Shut up and sing it with me! Na Na Na Na
O coro animou as pessoas que assistiam com os seus "na na na". 
Quando a música chegou ao fim, recebemos aplausos, e cumprimentámo-nos pelo bom trabalho. Pouco depois estavam a pedir mais músicas, e o grupo continuou a cantar. Finalmente, eu e Quica fizemos um dueto. 
- Picure perfect memories, scatered all around the floor, reaching for te phone, 'cause I can't take it anymore.
- And I wander if I ever cross your mind. For me it happens all the time. It's a quarter after one, I'm all alone and I need you now. Said I wouldn't call, but I lost all control and I need you now. 
A música fez-me lembrar Daniel. Ele não tinha estado presente em nenhum dos ensaios nem na actuação. Calculei que ele me estivesse a evitar. Quando Quica me veio elogiar pela minha performance, algo lhe chamou a atenção atrás de mim. Virei-me, surpreendendo-me com quem vi. 
- Vieste um pouco tarde. - Sibilei. 
- Desculpa... - Pediu. 
Quica afastou-se, arrastando com ela Speedy que se aproximava de nós. 
- O que se passou? - Perguntei, amargamente. 
- É normal que estejas zangado comigo... Mas eu precisava de um tempo para pensar... 
- E então, chegaste a que conclusão? 
Ele aproximou-se, segurou a minha cara entre as suas mãos, beijando-me intensamente. A minha língua passou pelos seus lábios, saboreando-os, sentido o doce aroma por que tanto ansiava. A sua língua tocou a minha em resposta, e as suas mãos passaram pelas minhas costas, fazendo um arrepio agradável percorrer-me a espinha. Ele afastou a cara um pouco da minha e manteve os seus olhos nos meus. 
- Como eu esperei por isto de novo... - Murmurei... 
- Eu sei... Também tive saudades tuas. - Suspirou. 
Entrelacei os meus dedos nos dele, provocando-lhe um sorriso nostálgico. Daniel pousou a cabeça no meu ombro, dando-me um beijo leve no pescoço. 
- Como estás? - Perguntei. 
- Ainda a digerir tudo isto... Mas percebi que não o faria sem a tua ajuda. - Respondi. - Tu mudaste a minha vida por completo. 
- Isso é bom? 
- Espero que sim. - Replicou, beijando-me de novo.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A Minha Melodia - Capítulo 9

Era o último dias de aulas. A grande maioria das pessoas estava no exterior, em actividades extra-curriculares, ou a organizar uma festa de natal. Escapuli-me para o auditório como sempre costumava fazer. Desta vez chegou-me aos ouvidos o som de piano, e de alguém cantar. Abri a porta lentamente. 
Unspoken, in silence. Let's stay here tonight, there's no reason to ask me, 'cause you know what's inside. Don't worry now, seasons will change. Forgive my mouth, not letting you walk away
Era o Daniel. Estava a cantar uma das minhas músicas preferidas. Acompanhei-o no refrão. 
Take your love, bring it back, bring it back. Think before you leave. I forgot what love is, bring it back. Tell me that you believe what fate's been telling me
Quando a canção acabou, ele olhou para mim, desviando o olhar de seguida para o chão.
- Vejo que andaste a trabalhar nas canções que exprimem o que sentes... - comentei. 
- sabes... Já há muito tempo que não faço algo que ninguém sabe que gosto de fazer... - Contou. 
- E que é que gostas de fazer que já não fazes há muito? - Perguntei curioso. 
- Mmm... - hesitou - É difícil admitir isso, mas gosto de te ouvir cantar... 
Encolhi a cabeça para trás, surpreendido com aquela frase. Ele olhou-me com os seus olhos verdes perfurantes. Estremeci, quando senti o meu coração parar. Gaguejei, perguntando se ele estava a falar a sério.
- Claro. 
Olhei para a guitarra que estava encostada ao piano. Peguei nela e comecei a tocar uns acordes. 
- I wake up, put my poker face on. It's roughly the same hand I was dealt yesterday. I stand up and stare out at the skyline. It's roughly the same town that I saw yesterday. Living doesn't come first try, It takes a lifetime getting it right. It takes a lifetime to learn how to sing, to find my place in the world's symphony, to become the man today, he man I thought I could be. It takes a lifetime, It takes a lifetime.
Ele ficou a ouvir, sem se mexer. Quando terminei, ele aproximou-se.
- Tenho de te agradecer... - disse. 
- Pelo quê? - interroguei. 
- Por me teres mostrado como a tua perspectiva do mundo da música é tão diferente da minha... 
Ele estava mais perto de mim do que jamais estivera. Sentia o meu coração bater acelerado. Ele olhou para mim. Parecia confuso. 
- Que se passa? - Perguntei a medo. 
- Oh nada. Nada. 
- Estás a tentar convencer-me a mim ou a ti próprio que não se passa nada? - Interroguei. 
- Pára com isso! - Exclamou, irritado. 
- Com o que? - Repliquei, confuso com a sua mudança de atitude. 
- Com isso que fazes, de me entender, de saberes o que pensas de não me saires do pensamento! - Gritou, saindo de rompante do auditório. 
Eu fiquei ali parado, de boca escancarada, a olhar para o meu reflexo no piano. O reflexo de Quica aparecu junto ao meu. 
- O que foi aquilo? - perguntou, tão estupefacta como eu. 
- Isso é o que gostava de saber... - comentei. 
- Ele acabou de dizer que não lhe saías do pensamento... - repetiu ela. 
- Eu... Eu sei... É melhor ir falar com ele. - disse, saltando do banco e caminhando para a porta. 

Encontrei-o num parque que havia ali perto. Estava sentado, pensativo, num banco escondido por trás de uns arbustos. Sentei-me ao seu lado em silêncio. 
- Desculpa... Pelo que quer que eu tenha feito de que não gostaste... - Comecei. 
- Não... Desculpa eu, por te ter dito aquilo... Eu não te devia ter sito o que disse... 
- Porque era ofensivo ou porque não querias que eu soubesses o que tu sentes? - Interroguei. 
Ele sorriu, melancolicamente. 
- ahhh... Um pouco dos dois... Eu estou confuso, Martim... - Confessou. - Eu nunca me tinha sentido assim por ninguém... Muito menos por outro rapaz... 
Peguei-lhe na mão com as minhas. Ele olhou para mim, com uma expressão triste. Percorri o seu braço com a minha mão direita, acariciando-lhe a cara. Aproximei a minha cara da dele. Os seus olhos fecharam-se. Pude sentir a sua respiração leve e acelerada. Os nossos lábios tocaram-se, primeiro suavemente, depois com carinho e desejo. As nossas bocas abriram-se ligeiramente, em simultâneo. Os meus sentidos ameaçaram falhar quando as nossas línguas se tocaram, consumando o nosso primeiro beijo.

domingo, 27 de março de 2011

A Minha Melodia - Capíulo 8

Estávamos na última semana de aulas to primeiro semestre. Agora que o tempo estava mais frio, os alunos preferiam abrigar-se no interior da academia. No ar ouviam-se vozes ansiosas. Soavam músicas da época natalícia por todos os cantos. As decorações eram já iluminadas por lâmpadas coloridas. Nessa tarde, voltei a refugiar-me no auditório. 
Sentei-me ao piano, pensativo. Toquei alguns acordes soltos, mas parei quando me apercebi de movimento atrás de mim. 
- Daniel...? - Arrisquei. 
- Sim... Como sabias que era eu? - Interrogou, surpreendido. 
- Consigo sentir a tua aura maligna e de tédio...-gozei. 
- Não estou propriamente onde pertenço... 
- E porque achas isso? 
- Porque sou um vencedor, e o CAP não é um clube vencedor. 
Ele estava sempre a dizer aquilo, a desprezar os nossos colegas. Aquela tinha sido a última gota. 
- Ok. - Ripostei, agarrando-o pelo braço. - Achas que a música é apenas sobre a competição?! Vem comigo.
Apesar de eu não tornar a minha condição física tão óbvia como ele fazia, isso não significava que não tinha a força para o puxar. O facto de eu não me gabar de ter obtido um porte atlético com os longos anos de natação que eu fazia desde pequeno, fez com que ele se surpreendesse por eu ser capaz de o arrastar pelo auditório. 
Levei-o ao longo da academia e das ruas em redor. Parava um pouco sempre que ouviamos pedaços da Last Christmas, dos Wham!, da All I Want For Christmas e de algumas outras cantandas em português. 
- E isto tudo foi para...? - Perguntou ele, revirando os olhos. 
- Para perceberes que a música não é uma batalha constante para ser o melhor. É uma forma de exprimires o que sentes. E todos sentimos de forma diferente, e é por isso que há tanta variedade de estilos e géneros de música. Por isso é que é possível haver músicas diferentes para diferentes épocas. Agora cantam-se as boas festas, daqui por uns tempos cantamos as janeiras e mais tarde cantamos a Eu Gosto É Do Verão! 
Ele olhou-me. Parecia agradado pelo meu discurso mas, ao mesmo tempo, relutante em dar-me razão. 
- Canta uma música que transmita o que sentes! - Desafiei. 
- Eu canto músicas que transmitem o que sinto. Por exemplo a Eye Of The Tiger... É sobre ser melhor que o teu adversário. 
Suspirei, fitando os seus olhos. Detectei uma pequena hesitação no seu olhar, um pouco de medo. 
- Não. Canta músicas que descrevam o que realmente sentes, não o que queres que os outros pensem que sentes. 
Ele abriu a boca, prestes a protestar, mas calou-se quando ergui a mão, cortando a sua fala. 
- ok. E o que achas que sinto? 
- Diz-me tu! - exclamei. - Sei lá... Sentes a falta de algo ou de alguém? 
- Sim... De alguém... - Murmurou, olhando para o chão. 
Sentei-me ao piano, pensando na música perfeita para o momento. Comecei a tocar no piano perguntando se ele conhecia aquela canção. Ele respondeu afirmativamente e começou a cantar após o meu sinal. Ele parecia nervoso, mas conseguiu cantar. 
Making my way downtown, walking fast, faces passed and I´m home bound staring blankly ahead, just making my way, making my way trhough the crowd.
Juntei-me a ele para o refrão.
- And I need you. And I miss you. And now I wonder... If I could fall into the sky, do you think time would pass me by? ´Cause you know I´d walk a thousand miles if I could just see you... tonight.
Quando acabámos a música, ele suspirou. 
- O meu pai está presente muito poucas vezes, por causa do seu trabalho... Sinto a falta dele. - Contou. 
- Eu sei o que isso é... - Comentei. 
- Todos dizem isso para me animar. Nem sei porque te estou a contar isto... 
- Não é para te animar. Estou a dizer a verdade... Apesar de estarem presentes no meu pensamento e no meu coração, nunca mais poderão estar presentes fisicamente... 
- Oh! - Exclamou, surpreendido. - Eles...? Desculpa, não sabia... 
- Não faz mal... - a campainha soou, interrompendo a conversa. - Tenho de ir para a aula, vêmo-nos depois.

sexta-feira, 25 de março de 2011

A Minha Melodia - Capítulo 7

Observei-o a subir ao palco. Olhei discretamente para os juízes. Um homem quase sem cabelos, um rapaz magro de cabelos castanhos, e uma rapariga de estatura pequena e compridos cabelos castanhos que desciam em cascata pelos seus ombros. Ele fez um sinal à bana que estava atrás de si para começar a tocar. A guitarra começou o compasso. A bateria seguiu-se e eu quase borrei as calças ao reconhecer aquela batida tão familiar do filme Rocky III.
- Rising up, back on the street, did my time, took my chances, went the distance now I'm back on my feet, just a man, and his will to survive. So many times it happens to fast, you change your passion for glory. Don't lose your grip, on the dreams of the past, you must fight, just to keep them alive.
Ele olhou para mim. Ele estava a gostar da minha cara de terror, ao aperceber-me que ele estava a interpretar um dos grandes hinos clássicos do rock. Os juízes marcavam o compasso com pequenas batidas de mão na mesa ou de pés no chão.
- It's the eye of the tiger, it's the thrill of the fight, rising up to chalenge of our rival, and the last known survivor stalks his prey in the night and he's watching us all in the eye of the tiger.
Comecei a suar ao sentir o alcance da sua voz na palavra "eye". A mim sim, só me apetecia dizer ai...
Quando terminou, os juízes aplaudiram energicamente. Eu caminhei para o palco, ainda a pensar como iria vencer aquilo. A minha mente começou a trabalhar. Como vou vencer o Rocky? Fez-se um clique. Usar a música que os realizadores queriam no início, mas cuja autorização para a incluir na trilha sonora não foi cedida. Os meus amados Queen iam-me salvar desta. Sussurrei ao baterista e ao baixista que música deveriam tocar. Eles sorriram-me. Eu caminhei para o palco, agarrando o microfone. A partir dali, tinha de me soltar.
- Bum bum bum, burumpumpurumpum. - acompanhei com o baixo. - Awh, let's go! Steve walks warily down the street, with his brim pull way down low. Ain't no sound, but the sound of his feet. Machineguns ready to go. Are you ready, hey, are you ready for this? Are you hangin' in the edge of your seat? Out of the doorway the bullets rip, to the sound of the beat.
Enquanto cantava, caminhava pelo parco, com energia e ao som da batida.
- Another one bites the dust. Another one bites the dust. And another one gone and another one gone Another one bites the dust. Hey I'm gonna get you too - Apontei para Daniel, que se encontrava já sentado numa das cadeiras da plateia. - .Another one bites the dust.
Quando a música finalmente acabou, senti-me ansioso pelos resultados. Quem seria o vencedor daquele clandestino concerto? Os juízes discutiram um pouco sobre o assunto. eu já tinha a certeza que teria de me despedir dos meus colegas do CAP, pois estava certo de que tinha perdido.
- E temos um vencedor,parece-me. - Anunciou o homem, subindo ao palco. - E o vencedor é...


Passou exactamente um dia após o concurso. Entrei no auditório de novo, com um espírito melancólico. Senti quinze cabeças a olhar para mim. Eles já sabiam que tinha havido um concurso entre mim e o Daniel, mas ainda não sabiam quem era o vencedor. Caminnhei até perto de Speedy, Quica e do professor Jorge.
- Sabem que o acordo era, se eu ganhasse, ele vinha para o CAP, mas se eu perdesse, iria para o clube deles... - Comecei. - Tenho más notícias... Ele é o nosso novo colega!
Apontei para Daniel, que entrava naquele momento no auditório. Assim que ouviu o meu berro, e os berros dos meus apoiantes, revirou os olhos e começou a dar meia volta. Corri para ele e puxei-o pelo ombro.
- Enfrenta o teu destino! - exclamei, usando as palavras que ele me sussurrara pouco antes de eu ser anunciado vencedor, e quando ele ainda estava convencido que seria o vencedor.
Ele sacudiu a minha mão, sentando-se pesadamente na cadeira.
- Os juízes não eram imparciais, só podia! - Comentou.
- Oh, encara-o, ele é melhor que tu. - Sibilou Quica. - E eu gosto tanto de te ter aqui como tu de cá estares. Mas foi uma acordo e os acordos são...
- Para sim cumprir, sim, eu sei essa história toda, mas isso não faz com que goste dela. - Refilou.
- Oh, va lá, é uma oportunidade para novas experiências! - Anunciei. - Speedy, mostra-lhe!
- Oh, oh, oh, mas vou precisar de vocês. Aqui vamos! - Exclamou Sandro.
Ele voou para a mesa de mistura, pegando um microfone pelo caminho.
- Bust it! This here's a jam for all the fellas, try to do what those ladies tell us, get shot down cuz you're over zealous. Play hard to get, females get jealous. Ok, smarty, go to a party. Girls are scantilly clad and showin' body, a chick walks by, ya wish ya could sex her, but she's in another world like you was poindexter. Next day's function, high class luncheon. Food is served, and you're stone could munchin'. Music comes on, people start to dance, but then you ate so much you nearly split your pants. A girl starts walkin', guys start gawkin', sits down next to you and starts talkin'. Says she wanna dance cuz she likes to groove, so come on, fatso, and just bust a move!
Todos nos sentimos contagiados com a energia com que ele cantava e dançava aquela música. Apenas Daniel se mantinha quieto no mesmo sítio, suspirando por ter perdido contra um "novato" como eu.

A Minha Melodia - Capítulo 6

Passaram-se alguma semanas desde que eu entrei para o Clube das Artes de Performance. Fiquei a saber que havia um outro clube do género na escola, ao qual o Daniel e a Julie pertenciam. Todos os anos, no final do ano lectivo, esses dois clubes juntavam-se num duelo de talentos e os alunos escolhiam para quem iria o troféu de melhor clube de música e teatro da escola. Descobri ainda que não ganhávamos há alguns anos. Decidi treinar um pouco mais a minha voz e, sempre que podia, escapulia-me para o auditório. Primeiro certificava-me de que estava sozinho e depois começava a cantar.
Nesse dia, quando cheguei, reparei que as últimas pessoas a usarem o palco o tinham deixado desarrumado, e decidi dar uma pequena ajuda, arrumando as roupas que estavam espalhados pelo chão. Enquanto o fazia, comecei a cantarolar.
-Sozinho na noite, um barco ruma, para onde vai...? Uma luz no escuro, brilha a direito, ofusca-as demais. - Pendurei alguns casacos e aumentei um pouco o tom da voz para o refrão. -  E mais que uma onda, mais que uma maré, tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé, mas vogando à vontade, rompendo a saudade, vai quem já nada teme...
- Vai o homem do leme... -Respondeu uma voz familiar, vinda dos bastidores.
Sobressaltei-me, deixando cair mais umas roupas, girando para ver quem me observava.
- Oh, Daniel... - Murmurei.
Ele aproximou-se, avaliando-me com os seus olhos magnéticos, de um verde que parecia fluir, como metal líquido. Tinha um sorriso de escárnio na cara, numa atitude de desprezo e intimidação.
- Então... Tu sabes quem eu sou. Óptimo. - Respondeu, com uma voz grave e profunda, passando a mão pelos cabelos loiros.
Estremeci ao aperceber-me de que a camisola de manga curta lhe assentava que nem uma luva. Era branca, com uma imagem do Big Ben com a bandeira Inglesa como fundo, que se desvanecia nas bordas. O decote em "v" descia-lhe até dois terços do peito. O tecido mostrava o relevo dos seus músculos bem definidos, que eram visíveis logo abaixo das mangas justas. Ele até podia se giro, mas isso não lhe dava o direito de ser arrogante com as pessoas.
- Não sei se é assim tão bom saber quem tu és. - Ripostei, apanhando as roupas que deixara cair.
- Mm? - Questionou
- Pelo que me disseram, és uma pessoa com uma personalidade... Que eu não considero boa.
- Ambicioso, competitivo? - Perguntou, cruzando os braços.
- Não, disseram que eras mais arrogante, convencido, nariz empinado e...
- Hei, já chega, já chega! - Pediu, fingindo-se ofendido e erguendo os braços em jeito de rendição. - Mas isso não é verdade. Eu não sou convencido, sou realista. Eu tenho talento.
Soltei uma gargalhada, desvalorizando as suas palavras e atirando com as roupas para dentro da arca. Ele continuava a caminhar perto de mim.
- Mas pelos vistos também sabes cantar... - Comentou. - Devias vir para o...
- O C.A.P.* já me fez esse convite e aceitei-o. - cortei.
- Devias saber escolher melhor os teus amigos... - Sibilou.
- E ser teu amigo? Desculpa, mas se eu quisesse ser mal visto, já o saberias. - Repliquei.
- Ainda vais a tempo de mudar de ideias. - Insistiu.
- Porquê tanto interesse em mim? - Perguntei.
- És talentoso, uma mais valia para o nosso clube. - Afirmou.
- Estarei eu a detectar uma nota de medo? - Perguntei, retoricamente. - Eu sei escolher os meus amigos e não preciso de um rapaz mimado a contar-me o que fazer.
Ele abriu a boca. Desta vez a surpresa e ofensa eram verdadeiras. Contive o sorriso que ameaçava formar-se na minha cara, e virei costas. Ele segurou-me no ombro.
- Amanhã, ás quatro, aqui. Um concurso, três juízes imparciais, que não conheçam nenhum de nós. Se eu ganhar, tu vens para o Clube de Música e Teatro. Se tu ganhares, o que duvido que aconteça, eu vou para o C.A.P.
Ergui uma sobrancelha, observando a mão que ele me estendia.
- De acordo. - Disse, apertando-lhe a mão.
Ora bolas, onde é que eu me fui meter?

*C.A.P. - Clube das Artes de Performance 

quinta-feira, 24 de março de 2011

A Minha Melodia - Capítulo 5

Abri a porta lentamente. O auditório parecia-me agora assustador. Havia pelo menos umas quinze pessoas sentadas na primeira fila de cadeiras forradas de tecido vermelho. Entre elas estavam Speedy e Quica. No palco, o professor Jorge gesticulava enquanto explicava qualquer coisa aos alunos. Agachei-me, tentando não ser visto, caminhando por entre as filas de cadeiras. Sente-me discretamente a meio do auditório, observando. Um rapaz caminhou para o palco. Eu já o tinha visto pela escola. Era alto, de cabelos castanhos. Ele estava prestes a cantar, quando o professor lhe chamou a atenção para parar. Fiquei curioso. De repente, Jorge olhou para mim e apontou, chamando-me para o palco. Senti todas as quinze cabeças a fixarem-me. Afundei-me na cadeira, antes de conseguir fazer as minhas pernas obedecerem-me e levarem-me até ao palco.
- Bom, aqui está o rapaz de que vos falei, o Martim. - Apresentou ele. - Ele vai mostrar-nos o que sabe fazer.
Ele afastou-se de mim, dando-me a palavra. Eu não sabia o que fazer. Estava a entrar em pânico. Eu não conseguia fazer aquilo! Nem sabia que música cantar! Estava prestes a dar um passo atrás quando me lembrei da letra de uma música. Dizia que devíamos arriscar, sair da nossa zona de conforto para conquistarmos os nossos sonhos, que não devíamos ficar à espera do lado de fora. Caminhei para o piano. Fechei os olhos e respirei fundo. Passei a mão lenta e suavemente pelas teclas do instrumento. Abri os olhos olhando para o verniz preto que reflectia a minha imagem.
- Não me deixes ficar mal agora... - Sussurrei para o instrumento.
Comecei a tomar. Na sala apenas se ouviam as notas do piano, claras, melódicas. Na minha cabeça marcava o compasso. Era agora que tinha de começar a cantar.
- You'll never enjoy your life, living inside the box. You're so afraid of taking chances, how you gonna reach the top? Rules and regulations, force you to play it safe. Get rid of all the hesitation, it's time for you to seize the day. Instead of just sitting around and looking down on tomorrow. You gotta let your feet off the ground, the time is now...
Senti a música fluir ao longo do meu corpo, movendo-o ao som da melodia. A minha voz transmitia os meus sentimentos, fiel, como sempre tinha sido, apesar de terem passado anos sem a testar. uma nota mais alta. O coração batia rapidamente, ansioso para que eu conseguisse alcançá-la. Sim, consegui. Senti a confiança aumentar, o nervosismo a soltar-se. Enchi o peito de ar para continuar a cantar o refrão. O tempo passou depressa. Estava já nos últimos versos.
I'm Waiting...waiting...just waiting...I'm waiting, I'm waiting...waiting...just waiting, I'm waiting...waiting outside the lines. Waiting outside the lines, waiting outside the lines. You'll never enjoy your life living inside the box, you're so afraid of taking chances, how you gonna reach the top?
Fui diminuindo lentamente o tom da minha voz até à última nota, finalizando a música. Fechei os olhos e as palmas encheram-me os ouvidos. Quando me levantei, as minhas bochechas começaram a arder, vermelhas com o sangue que me fluía para a cara. O Professor Jorge aproximou-se de mim.
- Fizeste a escolha acertada. Tu tens talento e não faz sentido desperdiçá-lo por causa de algo que não foi culpa tua.
Olhei para ele.
- O senhor estava no outro carro... Com a sua mulher... - Comentei.
- Sim. Mas isso é passado e nunca culpei os teus pais ou a ti pelo que aconteceu à minha mulher...
- Oh, ajuda-me com a próxima música, por favor! - Suplicou a Quica.
- Bringe me to Life dos Evanescence? - Perguntei, recebendo um aceno energético de cabeça.
Voltei a sentar-me ao piano. De novo a melodia aguda e tão familiar troou pela sala. Pouco depois, Quica começou a cantar, surpreendendo-me mais uma vez com o alcance da sua voz.
- How can you see into my eyes like open doors. Leading you down into my core. Where I've become so numb? Without a soul; my spirit's sleeping somewhere cold, until you find it there and lead it back home.
- Wake me up - Respondi à música, cantando com Quica.
- Wake me up inside. 
- I can't wake up.
- Wake me up inside.
- Save me.
- Call my name and save me from the dark. 
- Wake me up.
- Bid my blood to run. 
- I can't wake up.
- Before I come undone. 
- Save me.
- Save me from the nothing I've become.
Eu e ela entreolhámo-nos, acompanhando a música com movimentos dos nossos corpo. Ela rodopiava pelo palco, cheia de energia. Continuámos a música. Alguns alunos já nos acompanhavam também no refrão. Finalizamos em conjunto com o último e longo bring me to life. Os aplausos voltaram a soar no auditório. Recebemos um sorriso de aprovação de Jorge e voltámos a sentar-nos nos nossos lugares, atentos às actuações seguintes.

quarta-feira, 23 de março de 2011

A Minha Melodia - Capítulo 4

- Argh! - Gritei, agredindo os botões do comando da playstation, para tentar atingir um boneco com a espingarda que empunhava.
- Que se passa, querido? - Perguntou a minha avó.
A Avó Mariana ia passar as tardes sempre lá a casa da minha Tia Carla. A Tia tinha-me acolhido depois da morte dos meus pais e a Avó habituou-se a passar por lá todos os dias para ver como eu estava a lidar com a situação.
- Não se passa nada, avó. - Menti.
- Querido, não me mintas. Sempre que se passa alguma coisa que te esteja a frustrar tu começas a jogar jogos de tiros com pessoas a sério em vez de mortos-vivos.
- Isso não é verdade!- Exclamei.
- Carlinha, o teu sobrinho está a jogar jogos de tiros com pessoas a sério em vez de mortos-vivos...! - Informou a minha avó, dirigindo-se à minha tia, que acabara de chegar das compras.
- Oh, deuses. O que é que te está a incomodar, Tintim?! - Perguntou a minha tia preocupada.
Olhei para a minha avó repreensivamente. ela revirou os olhos e continuou a tricotar, espreitando pelo canto do olho para o televisor onde estava escrito, em letras vermelhas "Game Over".
- Nada! - Repliquei.
- Sim, tu jogas contra mortos-vivos quando te queres divertir, sadicamente. - Afirmou a minha tia. - E jogas com pessoas quando queres descarregar as tuas frustrações. Agora conta-nos o que se passa.
Suspirei. Quando aquelas duas mulheres, tão opostas uma à outra e tão contraditórias entre si se uniam contra alguém, era impossível tentar defender um ponto de vista diferente do delas.
- Fizeram-me um convite lá na escola... - Comecei.
- Alguma futura namorada? - Perguntou a minha avó, ansiosa.
- Avó!! - Exclamei.
- Ah, sim filho... Desculpa. - Comentou ela. - Esqueci-me que tu não és dado a raparigas...
- Sim, diz-se homossexual ou gay. - Refilei, cruzando os braços.
- Tu lá sabes o que lhe queres chamar, querido. - Defendeu ela, continuando o seu croché.
- Convidaram-me para ir ao Clube de Artes de Performance, cantar. - Desvendei.
A minha Avó e a minha Tia entre-olharam-se, surpreendidas e receosas. Um silêncio gelado caiu na sala.
- Querido, devias ir. - Incentivou a minha avó. - Já é mais que tempo de seguires em frente.
Lembrei-me das palavras do professor que me tinha falado. Speedy dissera-me que o nome dele era Jorge Mendonça. Contei à minha tia e a minha avó o que sabia sobre ele. Assim que lhes disse o nome do homem, senti-as mexerem-se desconfortavelmente.
- Agora são vocês que não me estão a contar qualquer coisa... - Comentei.
- Tu não te lembras tele, Martim? - Perguntou a minha Tia.
Eu estremeci. A minha Tia só me tratava por Martim quando estava séria. Ela quase sempre me tratava pelo diminutivo, desde que eu uma vez fora ao barbeiro e voltara com um penteado idêntico ao da personagem da banda-desenhada preferida dela.
- Não...? Devia? - Arrisquei.
- Ele... Era o condutor do outro carro onde os teus pais embateram. A mulher dele ia com ele e também faleceu no acidente, lembraste? - Contou a minha avó, por entre suspiros.
- Ai...? - Guinchei, largando o comando no colo. - Que linda mer...
- Olha a linguagem!! - Cortaram a minha Tia e a minha Avó ao mesmo tempo.
Aquilo explicava como o homem sabia o meu nome. E me tinha falado de uma forma tão informal. Fiquei com ainda menos vontade de ir no dia seguinte à reunião do clube.
- Mas vais. E acabou-se a discussão. - Ordenou a minha Tia.
- Hei, eu é que tomo essa decisão! - Refilei.
- Não quando a tua decisão é deitar aos gatos vadios o teu talento! - Exclamou a minha avó, em mais uma das suas muitas comparações e referências aos gatos sem dono a que ela dava de comer. - Se eles se alimentassem do dom que atiras à rua, eu não precisava de lhes dar comida o resto da minha vida.

terça-feira, 22 de março de 2011

A Minha Melodia - Capítulo 3

Depois desse dia, tornou-se um hábito começar a passar tempo com Quica e com Speedy. eles eram inseparáveis. Desde a actuação que eu não parava de pensar na forma como Julie, Francisca e Daniel se tinham movido em palco. Um dia, Quica convidou-me para ir ter com ela ao auditório da academia. Fiquei surpreendido com o palco, orlado de cortinas vermelhas de tecido pesado, bordado a linha dourada. A madeira do palco estava protegida por uma camada de verniz preto. Quando me aproximei, ouvi alguns acordes de guitarra, e duas notas de piano. Quica e Speedy estavam sentados perto do instrumento, ela a tocar nas teclas, ele com a guitarra na mão.
- Oh, sempre vieste. - Cumprimentou ela, correndo para ao pé de mim.
- Porque é que me chamaste para aqui? - Perguntei, curioso.
- Oh, nada era só para te mostrar uma música...
Eu sorri e sentei-me no banco do piano.
- Andas a trabalhar numa nova? - Interroguei.
- Sim... Mas tenho um bocadinho medo de a cantar...
- Porquê? - Exclamei.
Speedy mexeu-se desconfortavelmente na cadeira.
- Ela acha que eu só estou a dizer que canta bem a música por ser o irmão dela... - Explicou ele.
- Oh, mas tu cantas bem... - Concordei.
- Sim, mas não sei se estou à altura de cantar a Bring Me to Life, dos Evanescence, tenho medo de a minha voz não chegar à da Amy Lee.
Eu ri-me, virando-me de frente para o piano.
- Tu tens uma óptima voz. Mostra lá o que sabes fazer! - Incentivei, começando a tocar.
Sem dar por mim, os meus dedos percorriam as teclas brancas e negras, soltando a melodia aguda e melancólica. Senti os olhos de Speedy e de Quica em cima de mim. O meu coração parou, e retirei as mãos do teclado, de um salto.
- Tu sabes tocar?! - Perguntou Speedy.
- Não! - Cortei, friamente.
- Cala-te! Estavas a tocar tão bem! - Comentou ela.
- Desculpa, não volta a acontecer... - Avisei.
- O quê?! Mas porquê?! - Interrogaram em uníssono.
Suspirei, voltando a sentar-me no banco do piano, sem forças para me manter em pé, ao recordar-me do meu passado. Eles observavam-me, esperando pela minha fala.
- Há seis anos, os meus pais iam a um recital da escola, no qual eu ia participar. Eles atrasaram-se um pouco. A minha tia Carla chegou primeiro que eles. O recital começou sem que eu os visse na plateia. no primeiro acto eu tinha de tocar piano e cantar. Correu bem. Mas eles não estavam lá. E quando reparei, já nem a minha tia estava na plateia. Durante o intervalo, tentei encontrá-la. Ela estava em estado de choque, abalada, a tremer. Perguntei-lhe o que se passara. Ela disse que o papá tinha acelerado um pouco mais com o carro para chegar a tempo... - Senti a voz começar a falhar-me. Tomei um gole de ar para recuperar e e continuei. - O carro despistou-se, bateu num outro automóvel e depois foram atingidos por um camião. Eles morreram no acidente. Desde então, assumi que eles tinham morrido porque queriam ir ao recital, e senti que a minha voz era a culpada da morte deles... Prometi a mim mesmo que nunca mais ia voltar a tocar ou a cantar... Desde então que não tenho tido forças para tal...
Speedy deu-me uma pequena pancada amigável no ombro e Quica limpou as lágrimas dos seus olhos. Sorri tristemente.
- Isso é um dispara-te. - Comentou uma voz grave, por trás de nós, que nos fez saltar. - Não devias desperdiçar o teu talento por causa disso. As pessoas vêm e vão. É a lei da vida. Mas enquanto cá estás podes marcar o mundo com o teu talento como os teus pais marcaram a tua vida.
Olhei para trás. Um homem nos seus quarenta anos, com alguns cabelos brancos saiu de trás de um cortinado. Quica segredou-me que era um professor de música, dança e teatro.
- Fazemos assim: Amanhã, às cinco, vens aqui ter. Vamos ter uma reunião do Clube de Artes de Performance. Devias vir. - Convidou.
- Não, não, obrigado mas não. - Recusei, agitando vivamente a cabeça.
Ele olhou para mim. Algo naquela expressão era-me familiar.
- Martim... Devias tentar seguir em frente. - Disse, virando costas.
O meu coração bloqueou, e retomou a corrida rapidamente. A pergunta que me ecoava era como é que aquele homem que eu não conhecia sabia o meu nome. Speedy e Quica também pareciam não saber a resposta, pois estavam tão surpreendidos como eu.
Ergui-me do banco, apoiando a mão nas teclas. Senti a suavidade do marfim sintético e envernizado uma última vez antes de correr para a aula.

domingo, 20 de março de 2011

A Minha Melodia - Capítulo 2

Um burburinho persistente enchia o ar. Speedy e Quica vibravam de ansiedade. Até eu já sentia o suspense a enevoar-me o pensamento. Ela foi a primeira a subir ao palco improvisado. Os seus cabelos eram de um castanho claro que me fazia lembrar a areia macia da praia. Os seus olhos castanhos perscrutaram o público. O seu sorriso iluminava-lhe a cara.
- Aquela é a Julie LaCroix, a cantora feminina de maior sucesso aqui da Academia. - Informou Quica.
- E a rapariga mais cobiçada da zona... - Acrescentou Speedy, fazendo a irmã revirar os olhos.
O compasso começou a ser marcado pelo guitarrista. Ela pegou no microfone  olhou o público por momentos. Depois, os seus olhos fecharam-se e começou a cantar, marcando o ritmo com um dos pés, enquanto segurava o microfone em frente à boca com as duas mãos.
Os alunos começaram também a marcar o compasso da música da Katy Perry, vibrando com a voz de Julie. O seu sotaque ligeiramente afrancesado dava um outro sabor delicioso à música. O refrão chegou e o público começou a acompanhar, com os braços no ar, enquanto ela caminhava pelo palco como se fosse a sua casa:
- ...You and I, will be young forever!! You make me feel like I'm living a teenage dream, the way you turn me on, I cant sleep, let's run away and don't ever look back, don't ever look back. My heart stops when you look at me, just one touch, now baby I believe this is real so take a chance and don't ever look back...
Enquanto cantava, ela chamava a atenção do público, fazendo alguns passos de dança, caminhando entre a audiência e voltando ao palco. Quando a música terminou, sentimos uma vontade de a continuar a ouvir cantar quase incontrolável. Poucos segundos de silêncio se fizeram, até a segunda música começar. A batida electrónica começou a fazer-me vibrar. Alguém se moveu atrás de mim. Espreitei pelo canto do olho. Ouvi cantar. Olhei para trás. Um rapaz com os cabelos douradas e os olhos verdes vibrantes segurava o microfone a passava por mim enquanto cantava.
Aquela eu conhecia bem. For Your Entertainment, do Adam Lambert. Acompanhei a letra da música, surpreendido com a interpretação que o rapaz fazia dela. Tal como eu, já todos os outros alunos vibravam com o som.
- Oh! Do you know what you got into? Can you handle what I'm 'bout to do? 'cause it's about to get rough for you, I'm here for your entertainment
Acompanhei o refrão o mais alto que pude. Speedy e Quica também dançavam ao som da música. Quando a actuação chegou ao fim, os alunos acalmaram, e apercebi-me que Julie estava ao lado de Quica. Elas olharam-se ferozmente.
- Pena que não consigas cantar como nós, Francisca... - Comentou frivolamente.
Olhei para elas, testando a reacção da minha amiga.
- Pois não. Eu canto melhor! E sabes que mais, até te vou dedicar a próxima música! - Exclamou Quica, roubando um microfone a um rapaz jovem que o estava a começar a arrumar. Subiu ao palco e segredou algo ao baterista e ao guitarrista. eles olharam-na, primeiro surpreendidos, depois, satisfeitos.
- Elas nunca se deram bem... estão sempre a competir uma com a outra... Primeiro porque A Julie começou a namorar com o Ricardo, o namorado da Quica... Mas ela voltou a reconquistá-lo, o que piorou a rivalidade entre elas... - Informou Speedy, ao aperceber-se da minha cara confusa. - Mas a minha mana tem talento!
Ele sorriu, apontando para o palco. A guitarra e a bateria dominaram o início da música. Ao reconhecer o ritmo, não pude evitar um sorriso largo e cínico, dirigindo-o a Julie, que parecia confusa. Não parecia ser o género de música dela, por isso não devia conhecer aquela canção. Ergui o meu braço, com a mão fechada em punho para apoiar Francisca. Ela piscou-me o olho e começou a cantar.
- I'm in the business of misery, let's take it from the top. She's got a body like an hourglass that's ticking like a clock. It's a matter of time before we all run out... When I thought he was mine, she caught him by the mouth...
De novo, encontrei-me a acompanhar a música. Quica foi caminhando pelo público enquanto cantava, chegando perto de Julie quando começou o refrão:
- Well I never meant to brag, but I got him where I want him now Oh! It was never my intention to brag, to steal it all away from you now, but God does it feel so good 'cause I got him where I want him now, and if you could then you know you would 'cause God it just feels so... It just feels so good. Second chances they don't ever matter, people never change. Once a whore, you're nothing more, I'm sorry that'll never change, and about forgiveness, we're both supposed to have exchanged I'm sorry honey, but I'm passing up, now look this way! Well there's a million other girls who do it just like you looking as innocent as possible to get to who they want and what they like, it's easy if you do it right. Well I refuse, I refuse, I refuse!
Fiquei surpreendido com o alcance da sua voz. Ela escondia um talento comparável ao de Julie. E a outra rapariga sabia disso, sentindo-se intimidada. Enquanto cantava as três últimas palavra do verso, Quica ergueu o punho no ar ao ritmo da música. Rodopiou e continuou a cantar enquanto caminhava para o palco, deixando as pessoas em êxtase, tentando ver a reacção de Julie e, ao mesmo tempo, tentando não perder nem um segundo daquela actuação.
Já depois de a música ter acabado e a multidão ter dispersado, a campainha tocou, anunciando o início das aulas. Quica passou por mim, sorrindo. Elogiei-a e segui caminho para a sala de desenho, ainda a relembrar aquele momento inesquecível. No meu peito, o coração batia-me. No meu cérebro, uma vozinha dizia-me que eu podia tentar aquilo.
- Disparate, Martim... Talvez sejas minimamente bom com o desenho, mas não tens jeito para as músicas.

sábado, 19 de março de 2011

A Minha Melodia - Capítulo 1

- Ahh! Não! Tia! Pára! - Resmunguei, limpando a face onde ela me tinha dado um beijo lambuzado.
A minha tia olhou-me com os seus olhos castanhos, sorridente. Uma mão pousada no volante e a outra no meu ombro, olhou pela janela do meu lado. A Academia das Nove Artes era um edifício imponente, caiado de branco e com um pátio frontal ajardinado muito bem cuidado. Já vários alunos se moviam pelos carreiros de pedra marmórea, ansiosos pelo início das aulas. Senti o meu coração apertar-se de nervosismo.
- Ai, Tintim, anda lá! - Incentivou ela. - Arrasa-os com os teus dotes!
- Oh, provavelmente há gente muito melhor do que eu aqui... - Murmurei, abrindo a porta do carro.
Senti a mão dela puxar-me pela mala, obrigando-me a olhar para ela.
- Não. Digas. Isso. Ouviste? Não te deixes ir abaixo porque achas que eles são melhores do que tu.
Sorri, agradecido e respirei fundo, dirigindo-me para a entrada. Os portões duplos de madeira que tinham quase a altura de dois andares estavam abertos, deixando ver uma câmara ampla no interior do edifício, ladeada por duas escadarias de aspecto antigo, com corrimão de pedra. Tirei um papel do bolso e examinei o meu horário:

Horas
Seg.
Ter.
Quar.
Quin.
Sexta
8:30
10:00





10:10
11:40
Fotografia
(2.04)

Introd. à Pintura (1.19)
Fotografia
(2.04)
Introd. à Pintura (1.18)
12:00
13:30
Desenho II
(1.21)
Introd. à Pintura (1.18)
Desenho II
(1.21)
Hist. da Arte
(3.25)
Desenho II
(1.21)
13:50
15:20





15:40
17:00
Geometria
(1.05)
Hist. da Arte
(3.25)
Geometria
(1.05)
Geometria
(1.11)
Fotografia
(2.09)
17:20
18:50

Fotografia
(2.09)





Fiquei boquiaberto a olhar para o papel. Eu percebia os nomes das disciplinas: Fotografia, Desenho, Geometria, Introdução à Pintura e História da Arte... Mas não conseguia entender o que eram os números por baixo do nome das disciplinas... E no horário não apareciam as salas!
- Com problemas? - Perguntou uma voz feminina, por cima do meu ombro.
Desviei-me num salto, protegendo a cara com o papel. Ela olhou-me com os seus grandes olhos azuis. Enrolava uma madeixa de cabelo castanho no dedo, enquanto me estendia a outra mão.
- Sou a Francisca. Mas trata-me por Quica. - Anunciou.
Apertei-lhe a mão timidamente.
- Olá... Eu sou o Martim... - respondi. - E sim... estou com problemas... Não sei onde vou ter aulas...
Ela tirou-me o papel das mãos, num movimento ágil e coordenado, surpreendendo-me com a sua destreza.
- Mm... Vais ter Fotografia na sala dois-zero-quatro... - ela suspirou com o meu olhar baralhado. - Vê-se que  és novo... Estás a ver os números por baixo da disciplina? É o número da sala. O número antes do ponto indica o andar, o número depois do ponto indica a sala. Vais ter aula de Fotografia na sala quatro do terceiro andar... eu levo-te lá.

A aula passou bastante depressa, apesar de pouco termos feito, para além de sermos informados do material que deveríamos levar para a aula. Assim que passei da porta, senti-me desorientado. Tinha dez minutos de intervalo tortuoso pela frente. Decidi voltar à entrada da escola. Quando cheguei ao fim da escadaria, ao hall de entrada, fiquei surpreendido com a corrente de pessoas que caminhava apressadamente para o pátio interior do edifício. Quica aproximou-se de mim, entusiasmada. Um rapaz que parecia uma cópia masculina dela acompanhava-a. O seu boné preto e azul tinha a pala virada para o lado, dando-lhe um aspecto cómico e reconhecível.
- Oh, olá, Martim! - Cumprimentou ela - Este é o meu irmão gémeo, o Sandro.
- Speedy, para os amigos! - Cortou ele, agitando-me o braço com um aperto de mão.
- Speedy? - Perguntei, incrédulo.
- Sim. Sou o D.J. mais rápido cá da zona! - Exclamou, recostando-se para trás, com uma mão no peito, numa pose de superioridade.
- na verdade chama-lhe speedy porque ele anda sempre... "speedado". Não para quieto nem um minuto... - Comentou ela.
Ri-me, olhando em volta. Eles convidaram-me para os seguir.
- Que se passa ali atrás? - Perguntei, apontando para a porta na parede do fundo, que comunicava com o pátio interior da escola, onde se encontravam as mesas de almoço ao ar livre.
- Oooohh! - Arrepiou-se Speedy. - Um duelo de gigantes, um confronto de titãs, um espectáculo digno do coliseu de Roma, um...
- As estrelas cá do sítio vão defrontar-se uma vez mais. - Cortou a rapariga, já impaciente com as metáforas do irmão.
Ele baixou os braços e descaiu os ombros, queixando-se que Quica lhe tirava sempre os momentos de glória.
- Como assim, as estrelas cá do sítio vão defrontar-se? - Perguntei.
- É mais fácil perceberes se vires, em vez de te explicarmos... -  Disse ele, num tom misterioso.
Quando passámos a porta, fiquei surpreso com a quantidade de pessoas que se juntava em frente às mesas agrupadas à ponta do pátio, num palco improvisado. Bateria, guitarras, sintetizadores, baixos, caixa de misturas... Já tudo se encontrava no cimo do palco. Foi então que percebi o que se iria passar.

A Minha Melodia - Personagens

Personagens
Martim "Tintim" Saraiva
Data de nascimento (idade): 21/10/1993 (17 anos)
Físico: Cabelos castanhos escuros, curtos e olhos castanhos. Estatura mediana.
Personalidade: Tímido e observador, não gosta de ser o centro das atenções. É um rapaz modesto e sincero.
Família: Laura Saraiva (mãe) [falecida], Inácio Saraiva (pai) [falecido], Carla Saraiva (tia paterna)

Carla Saraiva
Data de Nascimento: 17/5/1979 (32 anos)
Físico: Cabelos castanhos com madeixas loiras, pelo ombro. Estatura mediana, olhos castanhos.
Personalidade: Jovial e indomável, tenta ver sempre o lado positivo das coisas da vida. Criativa e cheia de imaginação, está sempre a inventar novas formas de se divertir.
Família: Gonçalo Saraiva (pai), Mariana Saraiva (mãe), Inácio Saraiva (irmão mais velho) [Falecido], Laura Saraiva (cunhada) [falecida], Martim "Tintim" Saraiva (sobrinho)

Daniel "Dani" Stone
Data de Nascimento (idade): 1/4/1992 (18 anos)
Físico: Cabelos loiros, olhos verdes, porte atlético e estatura alta.
Personalidade: Sempre à procura de estar nas luzes da ribalta, é ambicioso e pouco se importa com quem tiver de pisar para conseguir o que quer. Extrovertido e charmoso, não tem medo de mostrar a cara.
Família: Ian Stone (pai), Isabel Stone (mãe), Lilian Stone (irmã mais velha)
Notas: O seu pai viajava imenso por causa do seu trabalho como agente de vários cantores. De nacionalidade britânica, conheceu Isabel e acabou por se mudar para Portugal, depois de se ter apaixonado por ela. No entanto, continua a viajar muito para fora do país.

Julieta "Julie" LaCroix
Data de Nascimento (idade): 25/8/1992 (18 anos)
Físico: Cabelos cor de areia compridos e olhos castanhos, estatura baixa.
Personalidade: Tal como Daniel, é ambiciosa e persistente, dando pouca importância ao quanto pode magoar os que se lhe opõem.
Família: Raquel LaCroix (avó paterna), Joseph LaCroix (avô paterno) [falecido], Jaqueline Lacroix (mãe), Pierre LaCroix (pai).
Nota: A sua avó era uma emigrante portuguesa que sempre contara histórias sobre o seu país ao seu filho, Pierre. Ele acabou por se mudar com a mulher, Jaqueline, para Portugal, levando consigo a filha de quatro anos, Julieta.

Francisca "Quica" Matos
Data de Nascimento (idade): 14/7/1992 (18 anos)
Físico: Cabelos castanhos compridos, olhos azuis grandes e expressivos, magra e de estatura baixa.
Personalidade: Animada, amigável e simpática, tem muita facilidade em falar com as pessoas e fazer amigos. Gosta de guiar os recém-chegados à Academia de Artes.
Família: Gertrudes "Jújú" Matos (mãe), Caetano Matos (pai), Sandro "Speedy" Matos (irmão gémeo).

Sandro "Speedy" Matos
Data de Nascimento (idade): 14/7/1992 (18 anos)
Físico: Cabelos castanhos à skater e olhos azuis, atlético de estatura mediana.
Personalidade: Gosta de se fazer ingénuo perante os que o rodeiam, para os surpreender com filosofias bem meditadas. É protector quanto à sua irmã gémea, mas amigável para todos. Preocupado, gosta de ajudar os que mais precisam dele.
Família: Gertrudes "Jújú" Matos (mãe), Caetano Matos (pai), Francisca "Quica" Matos (irmã gémea).

Jorge Mendonça
Data de Nascimento (idade): 6/9/1968 (43 anos)
Físico: Cabelos pretos, com alguns cabelos brancos já a aparecer. Estatura alta, porte altivo.
Personalidade: Os alunos dele acham-no austero, à primeira vista. No entanto, ele é um coração mole, sempre preocupado em ajudar os estudantes mais dificultados. Adora as artes e dá aulas de música, coreografia e teatro. É também o coordenador do Clube de Artes de Performance.
Família: Catarina Mendonça (mulher) [falecida].


João Mendes
Data de Nascimento (idade): 2/8/1992 (18 anos)
Físico: Cabelos castanhos, olhos cor de avelã, estatura alta, magro. 
Personalidade: É um rapaz calado, mas muito atento ao que se passa à sua volta.
Família: Vera Mendes (mãe), Bernardo Mendes (pai)

Inês Andrade
Data de Nascimento (idade): 21/5/1992 (18 anos)
Físico: Cabelos e olhos castanhos, estatura baixa. 
Personalidade: É uma rapariga um pouco melancólica, no entanto, transparece sempre uma alegria inesgotável. 
Família: Ana Andrade (mãe), Fernando Andrade (pai)