sábado, 12 de fevereiro de 2011

Na Crista da Onda - Capítulo 1

- Não posso crer que ela está de volta! - choraminguei.
- Bah, qual é o teu problema com a rapariga?! Até parece que ela te fez mal! - Ripostou Amanda, uma rapariga de cabelos cor de areia e olhos preto-azeitona azulados.
Ela era a minha melhor amiga. Conhecia-a desde os meus quatro anos. Ao longe, via a tal rapariga entrar na praia. Os seus cabelos dourados eram mais claros que a areia da praia. Revirei os olhos e deixei-me cair na toalha. Pouco depois, a cara de Amanda estava junto à minha, com um olhar curioso.
- Ela trás um rapaz ao lado... Será que é giro?
Ergui uma sobrancelha e espreitei pelo canto do olho. O tom da minha pele era moreno, tal como o de Amanda e da rapariga de quem estávamos a falar. Mas o rapaz que a acompanhava tinha um tom de pele mais claro. Sorri. Um sorriso matreiro, que Amanda já conhecia demasiado bem.
- Oh não, Kyle, o que estás a pensar fazer? - Perguntou, preocupada.
- Nada... - começei...
- Bebé, queres ir à água? - perguntou uma voz masculina impaciente.
Olhei para a minha esquerda, para o lado oposto do qual eu tinha estado a observar. O rapaz que estava connosco levantou-se da toalha, ajeitando o cabelo castanho. Olhou para mim frívolamente. Era Zac, o namorado de Amanda. Eu também não gostava muito dele. Zac já tinha magoado muito a minha melhor amiga. E uma des vezes em que a magoou, foi porque a traiu, com a rapariga que agora estava mais próxima.
- Jessie!! - Guinchou Amanda. - Que bom voltar a ver-te!
Tapei a cara com as mãos.
- Amanda! - Exclamou a outra rapariga. - Olá!
- Que novidades contas? - perguntou a minha amiga.
- Bem... o meu pai casou outra vez, com a mãe do Dante... - Ao dizer o nome, apontou para o rapaz que a acompanhava que lutava por sacudir a areia de uma das suas meias.
Observei, divertido, o rapaz a por os ténis no chão e a abanar o bocado de tecido com uma cara carrancuda. Foi então que vi os seus olhos. Eram de um azul-marinho vibrante, que parecia ter vários tons, como se observasse a superfície ondulante do oceano desde as profundezas. Aclarei a voz, e ergui-me.
- Olá, Jessica. - disse friamente. Depois, dirigi-me ao rapaz um pouco mais calorosamente. - Bem vindo a Newport Beach, Dante.
Ele sorriu timidamente e apertou a mão que lhe estendi.
- Então que tens feito? - Perguntou Jessica, dirigindo-se a Amanda.
Sorri secamente, erguendo a minha prancha de surf. A minha melhor amiga preparava-se para responder quando gritei "Quem quer vir surfar!?". Foi então que ele deu sinais de vida. Passou a correr por mim, com uma prancha preta com o padrão de fogo pintado a vermelho na ponta. Jessica e Dante saltaram para trás, deixando-o passar. O seu cabelo negro esvoaçou, e olhou desafiadoramente para mim com os seus olhos cor de avelã.
- Ah, desta vez não me vences, Sam! - Berrei, correndo atrás dele, o meu melhor amigo e meu vizinho desde os meus dois anos de idade.
Ouvi o riso abafado de Amanda, que também agarrou na prancha, despedindo-se à pressa dos que se encontravam na margem. Nós os três adorávamos o mar. Sempre vivemos perto dele. De facto, eu e Amanda tinhamo-nos conhecido na praia, quando estávamos a aprender a nadar. Daí a pouco, já estávamos os três a aprender a surfar. Na água eu senti-me... bem, sentia-me como um peixe dentro de água. A sensação das ondas a impulsionarem a prancha por baixo dos meus pés, o equilíbrio precário mantido com alguma perícia, a adrenalina que me corria no sangue. Tudo isso era insubstituível.
Meia hora passou sem darmos por isso, mas decidimos voltar para a margem, para não deixarmos os jovens que nos acompanhavam sozinhos por muito tempo.
Quando voltámos à areia, ainda vínhamos a atirar água uns aos outros. Reparei que Zac parecia chateado. Revirei os olhos e sussurrei a Amanda que era melhor ir falar com ele, antes que se desse uma crise crónica de ciúmes. Sentei-me na minha toalha, para me secar. Senti dois pares de olhos observar-me, o que me fez virar para trás. Jessica desviou o olhar repentinamente, mas Dante continuou a olhar para mim. Tentei fazê-lo desviar o olhar, mas ele continuava fito no meu. Só quando Jessica o avisou é que ele se apercebeu do que se passava e desviou o olhar, com uma expressão de surpresa e embaraço, à qual respondi com um sorriso amigável. Aproximei-me deles.
- Então, de onde és, Dante? Do norte, presumo.
- Sim...
Foi a primeira vez que o ouvi falar. tinha um voz calma, profunda.
- De onde? - continuei.
- Do Canadá. Montréal.
Sorri quando ele disse o nome da cidade em francês.
- Oh, então sabes falar inglês* e francês?
- Oui. - Respondeu, sorrindo orgulhosamente. -  Mas prefiro usar o inglês. O meu francês não é grande coisa...
- Discordo. Tens uma boa pronuncia. - comentei. - Mas pronto. Então, como é viver com a fera?
Ele olhou para Jessica que, entretanto, se tinha afastado, para falar com Amanda.
- Oh, que os deuses me salvem deste castigo... - disse, erguendo as mãos para o céu que começava a escurecer. - Aquela rapariga é tão chataa...
Rimo-nos. Acenei afirmativamente com a cabeça, concordando com ele.
- Já vi que não gostas muito dela... - constatou ele.
- Pois... digamos que ela procedeu mal, no passado. E eu não esqueço assim tão facilmente os erros que as pessoas cometem.
Ele pareceu ficar um pouco incomodado com o assunto, por isso, desviei o tema da conversa. Ficámos todos a conviver até que a lua se ergueu definitivamente no céu e voltámos para as nossas casas. As férias de Verão tinham começado duas semanas antes. Mas eu já sentia que iriam acabar cedo demais.

* como a história se passa na América, as personagens falam em inglês, apesar de eu escrever os diálogos em português.

0 comentário(s):

Enviar um comentário