segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Na Crista da Onda - Capítulo 5

Olhei para ele. Estava a acordar. Dante dormira profundamente durante a noite, tal como eu. Quando acordou, olhou em volta. Mas não me viu.
-Où suis-je?! - Exclamou, num francês perfeito, que me fez sorrir. - Mon Dieu, quelle chambre est-ce?! Avec qui j'ai passé la nuit?!*
Sorri-lhe, entrando no quarto.
- Está descansado, estás no meu quarto. - Respondi. - Não passaste a noite com ninguém...
Ele olhou para mim surpreendido.
- Ah... sabes francês? - interrogou.
- Um pouco... - respondi.
Ele olhou para si e mesmo e observou-me.
- Porque é que estamos em boxeres? - perguntou.
Abri a boca numa expressão espantada. Tinha-me esquecido que nenhum de nós estava vestido.
- Vomitaste para cima de mim e de ti próprio. - informei, retorcendo a cara.
Ele riu-se, nervosamente. ele pediu-me para ir lavar a boca, pois sentia o mau hálito da noite anterior. Indiquei-lhe onde era a casa de banho. Voltou pouco depois e sentou-se à cabeceira da cama. Eu sentei-me no meio da cama, em frente a ele, com as pernas cruzadas, como tantas outras vezes fizera desde pequeno. Ele olhou para mim, torcendo os dedos.
- Que se passa? Porque é que fizeste aquilo? - Perguntei. - Ninguém se embebeda daquela maneira à toa, a não ser para tentar esquecer alguma coisa...
- Nada... - ele testou-me com um olhar e acabou por ceder. - Chegou a altura de escolher entre viver aqui com a minha mãe e o meu padrasto e ir morar com o meu pai para o Canadá.
Senti uma pancada no peito. Incompreensível. Mas não indolor. Senti-me ficar sem ar. Eu não queria que ele fosse. Tinha desenvolvido uma amizade com ele que era raro encontrar. Eu e ele partilhávamos uma cumplicidade única e difícil de encontrar. Desde o ataque que eu e ele nos tínhamos vindo a aproximar. E eu sabia que ele se dava melhor com o pai do que com a mãe.
- E tu queres ir viver com o teu pai... - murmurei.
- Não sei.
- Mas nada te prende aqui, Dante. - comentei.
- Isso é mentira. Há algo que me prende aqui. - informou.
- O quê? - perguntei, curioso e, no fundo, esperançoso, por pode haver algo que o fizesse ficar.
Ele olhou para a praia, lá fora. Pôs-se de joelhos na cama, aproximou-se de mim, colocou a sua mão na minha cara e puxou-a levemente para mais perto dele. O meu coração batia mais rápido, ansioso pelo que se seguiria. O meu cérebro gritava-me que aquilo não estava certo, que me devia afastar o quanto antes. Então, os seus lábios tocaram os meus. Primeiro, levemente, depois com mais ardor. As nossas bocas abriam e fechavam lentamente, em uníssono, enquanto as nossas línguas se acariciavam. Ele quebrou o beijo, fazendo a sua mão deslizar para o meu pescoço e olhou para os lençóis da cama, envergonhado. Eu tentei balbuciar algumas palavras, mas apenas me saíram sons incompreensíveis. Dante tentou desculpar-se à pressa, começando a afastar-se de mim, mas eu segurei-lhe a mão junto à minha cara, acariciando-a.
- Eu sou o que te prende aqui...? - Murmurei.
Ele aproximou-se um pouco mais.
- Sim.
Sorri-lhe e fitei-o nos olhos.
- Mas tens de decidir onde queres ficar. Não precisas de decidir entre mim e o teu pai. Eu vou estar sempre em contacto contigo, quer vivesses aqui ou no Canadá.
- Mas, por enquanto, - começou. - Prefiro ficar perto de ti.
Voltou a beijar-me calorosamente. Eu correspondi. O meu cérebro já concordava que o meu coração estava certo. A campainha tocou. Eu afastei-me um pouco da sua cara revirando os olhos. ele disse-me que seria melhor eu atender. Saltei da cama e dirigi-me à porta de casa, detendo-me à entrada do quarto observando-o a levantar-se, de costas para mim, para observar a praia através da janela. Sorri ao admirar o corpo dele. O corpo do rapaz que eu amava.

* tradução: Onde estou?! Meu Deus, que quarto é este?! Com quem passei a noite?!


2 comentário(s):

Mark disse...

Olá.

Antes de mais, obrigado pelas palavras afáveis. (:

Devo dizer-te que adorei este texto. Gosto particularmente de textos com diálogos, apesar de raramente o fazer. E gostei também de todo o enredo. Tentei ler com a máxima atenção e pareceu-me, repito, pareceu-me, nomeadamente pela referência aos boxeres, que se trata de dois rapazes, sem prejuízo de que existem boxeres femininos. (:
Em todo o caso, o amor e a paixão avassaladora que senti em cada palavra transcende completamente esses detalhes. ^^

Ragdoll disse...

:p olá

De nada, e agradeço as tuas palavras igualmente valorosas.

Respondendo às tuas suposições, sim, são dois rapazes xD (De facto, leste com atenção e leste bem :P)
Eu tentei transparecer o amor que pode haver entre dois rapazes. Para demonstrar que, realmente, a única diferença entre casais heterossexuais e homossexuais é o género das pessoas envolvidas na relação. Os sentimentos, esses, são tão dignos e intensos num casal composto por duas pessoas de sexos diferentes como num casal composto por duas pessoas do mesmo sexo.

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