sábado, 26 de fevereiro de 2011

Na Crista da Onda - Capítulo 12

A máquina apitava compassadamente ao ritmo do seu coração. Ele continuava sereno, adormecido na cama de hospital. Aconcheguei um pouco o lençol branco que o tapava, tendo cuidado com a ligadura que lhe cobria o peito. Encostei-me na cadeira observando os seus olhos fechados. A sua boca estava relaxada, sem demonstrar nenhuma expressão, nem dor, nem alegria. Ouvi a porta do quarto abrir. Jack estendeu-me um copo de plástico branco e castanho. Aceitei e bebi um golo do café, que me aqueceu o estômago.
- O médico disse que ele deve acordar em breve... - Informou.
- Sim...?
- Mm, mm. - Respondeu, enquanto bebia um pouco de café do seu copo. - Ele também disse que o Dante deveria recuperar depressa. Teve sorte...
- Levou com um bocado de metal no peito, deve ser o rapaz mais sortudo do mundo! - Comentei sarcasticamente.
Jack revirou os olhos, sentando-se numa outra cadeira, do outro lado da cama, que estava encostada à janela. Ele olhou lá para fora, melancólico e pensativo.
- Parece que vou voltar a ver a luz do dia... - murmurou.
Não pude impedir que se abrisse um sorriso sádico na minha cara, ao lembrar-me do que lhe tinha dito pouco antes de ter caído à água.
- É... Acho que mereces um pouco de imunidade... - Hesitei. - Jack, obrigado por me teres tirado da água... se não tivesses eu provavelmente não estaria aqui para...
- Não há problema. - Interrompeu ele. - Sempre disposto a ajudar...
Olhei para ele e os seus olhos fitaram os meus.
- A sério? Um barco? Não tinhas uma maneira mais imaginativa para desapareceres do que atirares com o iate contra as rochas? - Repreendi, jocosamente.
Ele riu-se, um pouco nervoso e, ao mesmo tempo, divertido com a minha expressão. Eu correspondi com um sorriso de desculpas e voltei a olhar para Dante. As suas pálpebras mexeram-se ligeiramente. O meu coração começou a bater mais depressa e formou-se um nó no meu estômago, que me subiu à garganta. Pouco depois, os seus olhos azuis sonolentos começaram a abrir. Sorri-lhe. ele pareceu um pouco baralhado.
- O que... O que aconteceu? - Interrogou, com voz débil. - Lembro-me de te ter visto, de me teres falado, de uma luz branca, uma dor no peito...
Ele pousou a mão no peito. Peguei-lhe na mão e afastei-a da ferida, dizendo-lhe para ter calma. Contei-lhe o que se passara no barco, mas ocultei a parte em que tinha estado frente a frente com o tubarão, para não o preocupar.
- Então... o Jack...
- Estou aqui. - disse, aproximando-se com cautela. - Não fales, e melhor, não devias cansar-te, o pulmão ainda não recuperou.
- Quanto tempo é que eu estive aqui no hospital? - Perguntou.
Olhei para o relógio.
- Bom... Mais de um mês... E eu já estou atrasado para as aulas... Tenho de ir...
Dei-lhe um beijo rápido e corri em direcção à escola. Sentia-me muito melhor por saber que Dante tinha finalmente acordado. As aulas tinham começado uma semana antes, e todos os meus colegas percebiam que havia qualquer coisa que me preocupava. As primeiras pessoas que vi assim que cheguei foram Jessica, Amanda e Samuel.
- Oi, tudo bem? - cumprimentou Sam, assim que me viu.
- Sim. - Respondi, com um ar alegre.
- A que se deve todo esse contentamento? - Perguntou Amanda.
- O Dante acordou.
Jessica olhou para mim, com uma expressão de surpresa e indignação.
- E não me disseste nada! - repreendeu.
- Acabei de vir do hospital! - exclamei - Ele agora tem de descansar. Ainda não pode falar muito, para não forçar o pulmão...
- Está bem... Mas vou fazer-lhe uma visita depois das aulas. - Avisou ela, caminhando determinadamente para a sala.
Agora que Dante estava cada vez mais perto de estar completamente recuperado, eu sentia que a minha vida tinha recomeçado, depois de uma pausa de espera angustiada. A preocupação preenchera todos os dias das minhas férias após o acidente. Jack e eu tinhamo-nos aproximado mais, pois compreendíamos a dor um do outro. No entanto, era uma relação estranha, já que as pessoas não concordavam que houvesse uma amizade entre mim e a pessoa que era supostamente causadora da condição de Dante. Mas eu tiveram muito tempo para pensar e analisar a situação. E tinha chegado à conclusão que aquilo era a consequência de uma aleatória ordem de acontecimentos que levaram à presença de Dante naquele momento, naquele sítio. No sítio errado, à hora errada. Ninguém tinha a culpa do que acontecera. Isso era o que eu achava. O resto das pessoas achavam que Jack até deveria ser castigado por ter feito o que tinha feito. Eu já não me importava com vingança ou com apontar o dedo a alguém, a única coisa que me importava naquele momento era que Dante saísse daquela cama de hospital e pudéssemos voltar a passear juntos pela praia.

2 comentário(s):

Mark disse...

Já to disse, mas repito: gosto bastante dos diálogos que crias. Tens uma enorme capacidade criativa. (: Isso é óptimo.

Ragdoll disse...

:p Obrigado. Eu, por acaso gosto de fazer dialogos entre as personagens, acho que, quando elas falam, demonstram um pouco mais da sua personalidade :)

Mas ainda bem que gostas, obrigado pelos elogios ;p

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