segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Na Crista da Onda - Capítulo 4

O ar falta-me. Nado. Grito. As bolhas impedem-me de fazer qualquer som. Olhos negros. Dentes. Sangue. Dor. Grito.
Levantei-me da cama com um berro. Os meus pais entraram no meu quarto, assustados com o meu ataque de pânico. Sonhara de novo com o tubarão. Estava farto. A falta de sono deixava-me cansado. Já tinha passado um mês e meio desde o ataque do Tubarão-Branco. mas continuava a ir todos os dias à praia com o Dante, a Jessie, a Amanda e o Sam. Aprendi a conviver um pouco com a Jessica. Mas isso não significava que já tinha esquecido o que se passara. Tranquilizei os meus pais, dizendo que tinha sido só mais um pesadelo e voltei a tentar adormecer.
A manhã chegou lentamente. Vi o sol erguer-se no ar, ouvi os meus pais saírem de casa para irem trabalhar. O telemóvel tocou, as mensagens de texto chamavam por mim. Queriam que eu fosse à praia. Mas eu quis ficar em casa.
Já eram nove da noite quando finalmente atendi uma chamada de Amanda.
- Então, que se passou?! - perguntou, preocupada. - Estive em tua casa, mas não abriste a porta!
- Oh, não estava com vontade de ver ninguém. - queixei-me. - Tive outro pesadelo...
- Pois... É difícil reviveres tudo de novo... Mas, por favor, tens de fazer algo para esqueceres, nem que seja por momentos, o que se passou com o Tom e contigo. Olha, eu e o pessoal vamos a uma festa lá na praia, daqui a pouco, arranja-te e vem ter connosco às docas, ok?
- Mmm...
- Não aceito um "não" como resposta!
Sorri, depois de ela ter desligado. Tinha de admitir que ela tinha razão... Tentei escolher uma roupa adequada. Olhei-me ao espelho. Uns olhos verdes cansados fitavam-me. Penteei um pouco o meu cabelo castanho. Observei atentamente a camisa preta justa de manga curta que me cobria os corpo e os calções de canga que me chegavam logo abaixo dos joelhos. Revirei os olhos, por perceber que tinha uma cara desgastada e saí de casa.
Já todos estavam à minha espera: Amanda, Zac, Sam, Jessie e Dante. Corremos até ao sítio onde se estava a dar a festa. Dante parecia um pouco distante. Ele tinha vindo a ficar assim desde uns dias antes. Já tinha conversado com ele bastante o suficiente para o conhecer minimamente e suspeitava que era, problemas da família que o perturbava. Ele contou-me que a mãe e o padrasto estava fora, pois o pai de Jessie tinha ido tratar de um negócio à Flórida. Mas parecia-me que ele ainda escondia algo mais. No entanto, não lhe consegui arrancar nada. Nem mesmo depois de ele se embebedar um pouco. Nem mesmo depois de ele se embebedar muito. Quando me apercebi que ele já mal se aguentava em pé, os outros já tinham desaparecido.
- DAnte... Sentes-te bem? - Perguntei, preocupado.
- Oh, sim sinto-me óptim...
Foi interrompido por uma falta de equilíbrio.
- Ok, já chega, por hoje é tudo para ti. - Disse, segurando-o e ajudando-o a caminhar para longe da confusão.
Eu mal tinha tocado no meu primeiro copo, por isso, fui capaz de o transportar até minha casa, que ficava perto da margem. Era uma vivenda grande, de dois andares, com paredes brancas, orladas de amarelo. As janelas da sala ocupavam uma enorme porção da parede. Entrei, sem me preocupar muito. Os meus pais, ambos biólogos marinhos, tinham partido nessa manhã para uma expedição no alto mar, para estudarem os movimentos migratórios dos golfinhos.
- Tem cuidado com o degrau... - avisei, ajudando Dante a começar a subir as escadas para o segundo andar.
- Ok...
Chegámos ao cimo e ele tentou libertar-se.
- Eu ainda sei anda... hic... sozinho... podes...
Acho que ele ia dizer que eu o podia largar. Mas não conseguiu acabar a frase antes de vomitar para cima de mim. Contorci a cara de nojo e resisti ao impulso de o empurrar para longe, sob o risco de o atirar das escadas abaixo, o que fez com que ele também acabasse sujo. Levei-o até ao meu quarto, deitando-o na cama. Por essa altura, estava a cantar incompreensivelmente, num tom cada vez mais baixo.
- Ok... e agora vou tirar-te esta camisola suja... - comentei, enquanto o despia.
Ele ainda tentou responder, mas acabou por adormecer antes de eu lhe tirar os calções. Endireitei-o na cama, e levei a roupa para a máquina, pondo lá também a minha. Deixei-me cair exausto no sofá, após ter limpo o cimo das escadas. Pouco depois, adormeci, tão pesadamente como nunca antes tinha feito nos últimos tempos. Nessa noite, sabia que não seria incomodado por pesadelos com o Grande Tubarão-Branco.

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