sábado, 18 de junho de 2011

A.M.I.G.O.S.- 1ª Temporada; Episódio 1: A Mudança

Sandra deixa cair pesadamente uma das caixas de cartão em frente ao portão da casa. À sua frente estendia-se uma estrada alcatroada em direção à garagem. A casa ergue-se acima do muro, com os seus dois andares repletos de janelas a intervalos regulares.
- Onde foram desencantar esta beleza?! - Pergunta, gaguejando.
- Aqui! - Informa Giuseppe, tocando com um dedo na minha testa.
 A boca de Sandra abre-se ainda mais e eu reviro os olhos, girando a cabeça na direção do meu amigo.
- Foste tu que a desenhaste? - Inquire.
- Sim. Com ideias de todos, obviamente... - Respondo apressadamente. - Está ao gosto de todos... Mas isto foi feito antes de tu voltares, por isso, não há um bocadinho teu naquela casa.
Já não posso retirar as palavras duras que acabo de expressar. Mas ela sorri-me.
- Nesse caso, terei de dar o meu melhor para que tal mude.
Andreia aparece subitamente do monovolume que conduz e arrasta-me pela estrada a cima, virando repentinamente à esquerda e empurrando-me para dentro da cabana de arrumações. à minha volta predomina o material para manutenção da piscina, algumas bóias, uma quantas bolas já cheias, cadeiras de metal articuladas e arrumadas a um canto... E uma mulher a olhar para mim indignada.
- Que queres? - Interrogo, com as mão erguidas em minha defesa.
- Ainda perguntas? Será que não és capaz de dar uma hipótese que seja à rapariga que mais te ajudou no secundário?
- Ajudou, e muito. E depois desapareceu como se os que a rodeiam não se importassem. - Replico.
Ela suspira, desesperada. A porta da cabine abre-se de rompante. Giuseppe olha para nós espantado, espreitando sobre o ombro para verificar se estava mais alguém nas redondezas.
- Caro, pensei que não estavas afim de meninas... - Graceja.
- E não estou. E em particular a fim de uma certa menina. - Silvo.
- Desisto. - Desabafa Andreia, empurrando o italiano para longe do seu caminho.
- Discussão sobre a Sandra de novo? - Pergunta. - Devias tentar fazer um esforço.
- Estou a tentar.
- Nota-se... Anda lá, a Matilde acabou de fazer o tal arroz de pato que nos prometeu!
Ele puxa-me pelo braço, fechando a porta atrás de mim. A cheiro adocicado que paira na entrada da casa convida-nos a caminhar em direção à sala de jantar. Lá, encontra-se uma mesa posta, onde já se encontram todos os outros. Sandra, Andreia e Óscar sentados, e Matilde pousa um tabuleiro fumegante na mesa. Sento-me numa das cadeiras vagas, lambendo os lábios com antecipação. A reação do italiano é idêntica.
após começarmos a comer, Giuseppe, sempre juvenil, ergue o seu copo que já enchera pela segunda vez.
- Proponho um brinde. - Incita. - A nós, amigos inseparáveis, que agora arranjaram um lar onde continuar assim!
Cinco outros braços segurando copos se ergueram, em resposta àquelas palavras. O meu olhar pousa em Sandra e o dela em mim. Noutros tempo, eu e ela havíamos sido muito próximos. No entanto, numa altura em que eu precisava da sua ajuda, ela desapareceu sem deixar rasto, apenas um bilhete informando que estava bem e que levava a sua mota e o seu casaco de cabedal preferido - o que eu lhe tinha oferecido nos anos. Ela olha-me, convidando-me a segui-la.
Levantamo-nos, sem troca alguma de palavras, pois ainda conseguimos ler as expressões faciais um do outro. A divisão fica em silêncio e sinto os olhos dos restantes fitarem as minhas costas. Ela guiou-me até ao seu quarto. De uma das caixas tirou uma peça de roupa preta gasta e de aspeto pesado. Subitamente, reconheci as faixas vermelho-escuras nos ombros.
- Cristo! Ainda tens isso contigo? - Exclamo, admirado.
- Sim, Ivo. Eu nunca me esqueci de ti. Andei sempre com o casaco, desde que mo ofereceste. Claro... Ainda o tentei usar mais, mas como ficou muito gasto... Acabei por ter medo de o estragar completamente com o uso. Mas guardei-o sempre comigo... Não sabes a razão por detrás da minha ida, nem por detrás do meu regresso. No entanto, fica a saber que continuo a ser a tua amiga.
- Veremos. - Respondo, com um tom de teimosia falsa.
Ela sorri.
- Aos novos tempos... - Sussurra.
- Para que tenham tudo de com que os velhos tempos tiveram. - Completo, saindo da divisão, adivinhando o sorriso que se forma na sua cara.

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