segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sonho à beira-mar

Sopra forte um vento gelado. Observo as estrelas brilhantes, pontos brancos a alaranjados contra um céu negro da noite que vai a meio. As ondas requebram na areia granulada que sinto debaixo dos dedos das mãos que me apoiam, ali sentado na praia, à beira mar. A minha mente divaga por fantasias - príncipes bem vestidos convidando princesas elaboradamente arranjadas para uma dança ao som de violinos e do piano; heróis sombrios de capuz tapando a cara, correndo pelos telhados de uma cidade medieval agitada, fugindo de uma qualquer injustiça que lhes manchara erroneamente o nome de família outrora reconhecido; homens no espaço pisando pela primeira vez a poeira fina da superfície marciana, observados de longe por hominídeos de pele semelhante a couro cinzento queimado pelo sol abrasador; piratas esgrimando com os seus sabres floreados, tentando conquistar ou defender o seu navio de que se orgulham, com as velas estendidas a todo o pano prontas a saborear aquela brisa marítima que se levanta por perto; sereias curiosas que nadam até à costa, deitando-se maravilhadas na areia à vista de um naufrago de faces angulosas e firmes marcadas pela angústia.
Algo me acorda destas minhas divagações sonhadoras com outros tempos idos ou que estejam por vir. É um som fraco, suave. Grãos de quartzo que formam aquela areia da praia a serem esmagados por pés humanos que caminham lentamente na minha direção. Mas o meu olhar mantém-se no céu. Não preciso de olhar para trás para saber quem é. Os seus passos são me inconfundíveis, quer estivessem sobre areia, sobre mármore ou sobre a relva. Ele cai de joelhos junto às minhas costas, envolvendo-me o peito e os ombros com os seus braços quentes. A minha mão, mais por instinto do que por planeamento, afaga-lhe o pulso, enquanto ele me cumprimenta com um delicado beijo no pescoço e me sussurra um olá ao ouvido.
- Buona sera, mio caro. - Digo, num murmúrio.
Não é a minha língua nativa, mas sei que ele gosta de me ouvir falar em italiano. Consigo adivinhar o sorriso na sua face, apesar de ter agora os olhos fechados, enquanto sinto o seu aroma que tanto me faz desejar estar a todo o momento com ele.
- Como estás?
A sua voz é-me tão familiar aos ouvidos e, no entanto, cada vez que ele fala, sinto que estou a ouvir aquele som angelical pela primeira vez. A sua mão acaricia-me o peito um pouco mais, antes de ele aproximar os seus lábios dos meus. Quando as nossas bocas se tocam, sinto-as. E sei que ele também as sente. As borboletas no estômago. Aquela sensação de que o meu peito pode rebentar de alegria a qualquer momento. A minha outra mão desloca-se em direção à sua cara e acaricia-lhe a face, enquanto ele se põe lentamente  ao meu lado. Quando quebramos o beijo, ele está sentado junto ao meu ombro, e entrelaça os seus dedos nos meus. E ficamos simplesmente a observar as estrelas.
Já me haviam perguntado. E eu tinha medo disso. Perguntaram-me se eu gostava dele o suficiente para o fazer feliz. Mas agora o medo já é apenas uma nuvem negra sobre o meu passado. Sim, gosto dele o suficiente para o fazer feliz, para o fazer o rapaz mais feliz do Universo! Sei que farei tudo ao meu alcance para estar sempre com ele, para o apoiar sempre que ele precisar, para conversar com ele quando tudo parecer estar a falhar, para simplesmente partilhar com ele os bons momentos das nossas vidas que se cruzaram.
- Em que estás a pensar? - Pergunta-me, curioso, fitando os meus olhos.
- Em ti. Como sempre faço. Penso em ti. - Respondo, com uma voz séria e profunda.
Um sorriso desenha-se novamente na sua cara. Aquele sorriso que me faz sentir o centro do mundo de alguém. É aquele sorriso que quero ver sempre a toda a hora na sua cara. Nunca aquelas lágrimas dilacerantes de mágoa e desespero, mas sempre aquele sorriso pacífico e genuíno. Sinto de novo a sua mão mexer-se um pouco entre os meus dedos.
- Nunca pensei vir a amar uma Estrela, algo tão distante e inalcançável pelos homens... - Suspiro, olhando de novo para os míticos pontos luminescentes no céu.
Subitamente, o céu começa a ficar alaranjado, e azul turquesa. Um fogo ergue-se sobre o mar. É aquele astro gigante, que nos presenteia a ambos com o seu brilho e calor.
- Mas apaixonei-me por uma estrela e observo-a na praia. Mas não é ao Sol que me refiro. É a ti, que brilhas mais para mim do que o Sol, porque me guias no escuro mesmo quando o Sol se parece ter abatido e abandonado a minha vida. - Completo, com um sorriso atordoado na cara.
Ele volta a beijar-me carinhosamente, e eu sinto o coração bater fortemente. Já não bate por mim. Apenas bate para me manter vivo para aquele rapaz, aquele rapaz que tanto adoro e que tanto merece o melhor que o Universo lhe possa dar. Aquele rapaz que me faz querer escrever sobre o que sinto por ele.

Adoro-te, mio caro, mais do que ao próprio Sol.

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