quinta-feira, 31 de março de 2011

A Maldição - Capítulo 1

Luís Afonso observou o ostentoso palácio real. Ali, dentro daquelas paredes ricamente ornamentadas, abrigava-se da chuva do inverno o Rei de Portugal e dos Algarves. Correu para a entrada. Um criado estendeu-lhe a mão, recebendo a sua jaqueta. Ele continuou o seu caminho pelo largo corredor, descalçando as luvas brancas e colocando-as no bolso do seu colete. Um homem de cara idosa, quase careca, envergando vestes vermelhas típicas caminhava na sua direção. Era o cardeal que regira o Reino aquando a menoridade de seu sobrinho-neto Sebastião.
- Cardeal D. Henrique, como passais? - Cumprimentou Luís Afonso, carinhosamente tratado por Afonso pelo Cardeal.
- Oh, meu filho, indo vou. E vós, que novas trazeis do Porto? - Respondeu o idoso.
- Meu pai continua a queixar-se do reumatismo e minha mãe por lá ficou para o alentar. E por cá pela grande Lisboa, que novidades há?
- Nenhumas. O mesmo de sempre. Sua Majestade continua querendo a conquista aos mouros... - Luís Afonso sorriu ao compreender o entoamento irónico do título que dava ao seu sobrinho.
- Nobres fins, arriscados meios: como sempre digo.
- E com muita razão o dizeis. - Exclamou o cardeal. - Bom, e como tal peste bem precisa, lá vou eu dar a missa das onze para rezar por alma de monarca perdido daquele jovem... Que Deus te abençoe e acompanhe sempre, meu filho.
Luís Afonso despediu-se com um sorriso e um vivo "igualmente", e continuou a caminhar pelo palácio, dirigindo-se ao salão do trono. Sebastião lá estava sentado na cadeira dourada e vermelha.
- Ora, como ides, meu querido banqueiro real?! - Cumprimentou o Rei, jovialmente.
- Bem, como sempre, Vossa Excelência. - Respondeu Luís, fazendo uma vénia.
- Então, seu pai está melhor? - Interrogou o rei.
- Não. De facto ainda está pior. - Queixou-se ele. - Mas esperanças não me morrem de que ele melhore em breve.
- Também espero que tal se suceda. Agora, meu amigo, há algo que vos queria perguntar. - Comentou o monarca. - Como sabeis, já começo a  juntar as tropas para marchar sobre os mouros em África, e data já eu tenho marcada.
- Cristo ajude o reino! - Exclamou. - Vós estais bom da cabeça? Parece que tendes estado a respirar vapores de tulipas, meu amado Rei.
Sebastião riu-se sonoramente com o comentário do seu amigo.
- Não, de todo, Luís Afonso. Mas certo é que daqui por menos de um ano, no mês de Agosto, estarei eu cabeceando a armada portuguesa, em Alcácer-Quibir, para libertar aquela terra dos profanos muçulmanos.
- Falais com a paixão de Camões... - comentou Luís Afonso. - Não será que as rimas desse epopeico poeta vos tenham subido à cabeça?!
Sebastião relembrou Luís Vaz de Camões, lendo-lhe Os Lusíadas em voz alta, naquela mesma sala, cinco anos antes.
- Talvez tenham, talvez não. Mas assim como meus antepassados, começando em Afonso Henriques, conquistaram Portugal e os Algarves aos mouros, também eu tenciono ganhar mais terras para o reino. E tal assim está decidido, seja como Deus quiser. Que fique escrito, a quatro de agosto, um reino se expandirá, ou um rei tombará, de acordo com os desígnios do Senhor de Cristo Redentor.
Luís Afonso decidiu não discutir mais com o Rei, e seguiu uma jovem criada até ao seu aposentos, relembrando os tempos em que Vaz de Camões caminhara por aqueles mesmos corredores.

2 comentário(s):

adorkably-silva disse...

achava que tinha comentado aqui antes... OwO deve ter dado erro ou alguma coisa... de qualquer forma foi há dois dias e já não me lembro do que ia comentar mas era basicamente para dizer que a história está muito fixe até agora! adoro quando alguém escreve sobre esta época...
cumpz ;D

Ragdoll disse...

Pois, deve ter sido um erro do servidor ou assim... As novas tecnologias também têm falhas, infelizmente....

Eu, pessoalmente, sou um amante de História, sempre me senti curioso pelos nossos antepassados, para perceber a importância do legado que nos deixaram. Como tal, decidi escrever uma história noutro tempo... É a primeira vez, mas ainda bem que há gente que gosta :P

Cheers! :D

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