sábado, 19 de março de 2011

A Minha Melodia - Capítulo 1

- Ahh! Não! Tia! Pára! - Resmunguei, limpando a face onde ela me tinha dado um beijo lambuzado.
A minha tia olhou-me com os seus olhos castanhos, sorridente. Uma mão pousada no volante e a outra no meu ombro, olhou pela janela do meu lado. A Academia das Nove Artes era um edifício imponente, caiado de branco e com um pátio frontal ajardinado muito bem cuidado. Já vários alunos se moviam pelos carreiros de pedra marmórea, ansiosos pelo início das aulas. Senti o meu coração apertar-se de nervosismo.
- Ai, Tintim, anda lá! - Incentivou ela. - Arrasa-os com os teus dotes!
- Oh, provavelmente há gente muito melhor do que eu aqui... - Murmurei, abrindo a porta do carro.
Senti a mão dela puxar-me pela mala, obrigando-me a olhar para ela.
- Não. Digas. Isso. Ouviste? Não te deixes ir abaixo porque achas que eles são melhores do que tu.
Sorri, agradecido e respirei fundo, dirigindo-me para a entrada. Os portões duplos de madeira que tinham quase a altura de dois andares estavam abertos, deixando ver uma câmara ampla no interior do edifício, ladeada por duas escadarias de aspecto antigo, com corrimão de pedra. Tirei um papel do bolso e examinei o meu horário:

Horas
Seg.
Ter.
Quar.
Quin.
Sexta
8:30
10:00





10:10
11:40
Fotografia
(2.04)

Introd. à Pintura (1.19)
Fotografia
(2.04)
Introd. à Pintura (1.18)
12:00
13:30
Desenho II
(1.21)
Introd. à Pintura (1.18)
Desenho II
(1.21)
Hist. da Arte
(3.25)
Desenho II
(1.21)
13:50
15:20





15:40
17:00
Geometria
(1.05)
Hist. da Arte
(3.25)
Geometria
(1.05)
Geometria
(1.11)
Fotografia
(2.09)
17:20
18:50

Fotografia
(2.09)





Fiquei boquiaberto a olhar para o papel. Eu percebia os nomes das disciplinas: Fotografia, Desenho, Geometria, Introdução à Pintura e História da Arte... Mas não conseguia entender o que eram os números por baixo do nome das disciplinas... E no horário não apareciam as salas!
- Com problemas? - Perguntou uma voz feminina, por cima do meu ombro.
Desviei-me num salto, protegendo a cara com o papel. Ela olhou-me com os seus grandes olhos azuis. Enrolava uma madeixa de cabelo castanho no dedo, enquanto me estendia a outra mão.
- Sou a Francisca. Mas trata-me por Quica. - Anunciou.
Apertei-lhe a mão timidamente.
- Olá... Eu sou o Martim... - respondi. - E sim... estou com problemas... Não sei onde vou ter aulas...
Ela tirou-me o papel das mãos, num movimento ágil e coordenado, surpreendendo-me com a sua destreza.
- Mm... Vais ter Fotografia na sala dois-zero-quatro... - ela suspirou com o meu olhar baralhado. - Vê-se que  és novo... Estás a ver os números por baixo da disciplina? É o número da sala. O número antes do ponto indica o andar, o número depois do ponto indica a sala. Vais ter aula de Fotografia na sala quatro do terceiro andar... eu levo-te lá.

A aula passou bastante depressa, apesar de pouco termos feito, para além de sermos informados do material que deveríamos levar para a aula. Assim que passei da porta, senti-me desorientado. Tinha dez minutos de intervalo tortuoso pela frente. Decidi voltar à entrada da escola. Quando cheguei ao fim da escadaria, ao hall de entrada, fiquei surpreendido com a corrente de pessoas que caminhava apressadamente para o pátio interior do edifício. Quica aproximou-se de mim, entusiasmada. Um rapaz que parecia uma cópia masculina dela acompanhava-a. O seu boné preto e azul tinha a pala virada para o lado, dando-lhe um aspecto cómico e reconhecível.
- Oh, olá, Martim! - Cumprimentou ela - Este é o meu irmão gémeo, o Sandro.
- Speedy, para os amigos! - Cortou ele, agitando-me o braço com um aperto de mão.
- Speedy? - Perguntei, incrédulo.
- Sim. Sou o D.J. mais rápido cá da zona! - Exclamou, recostando-se para trás, com uma mão no peito, numa pose de superioridade.
- na verdade chama-lhe speedy porque ele anda sempre... "speedado". Não para quieto nem um minuto... - Comentou ela.
Ri-me, olhando em volta. Eles convidaram-me para os seguir.
- Que se passa ali atrás? - Perguntei, apontando para a porta na parede do fundo, que comunicava com o pátio interior da escola, onde se encontravam as mesas de almoço ao ar livre.
- Oooohh! - Arrepiou-se Speedy. - Um duelo de gigantes, um confronto de titãs, um espectáculo digno do coliseu de Roma, um...
- As estrelas cá do sítio vão defrontar-se uma vez mais. - Cortou a rapariga, já impaciente com as metáforas do irmão.
Ele baixou os braços e descaiu os ombros, queixando-se que Quica lhe tirava sempre os momentos de glória.
- Como assim, as estrelas cá do sítio vão defrontar-se? - Perguntei.
- É mais fácil perceberes se vires, em vez de te explicarmos... -  Disse ele, num tom misterioso.
Quando passámos a porta, fiquei surpreso com a quantidade de pessoas que se juntava em frente às mesas agrupadas à ponta do pátio, num palco improvisado. Bateria, guitarras, sintetizadores, baixos, caixa de misturas... Já tudo se encontrava no cimo do palco. Foi então que percebi o que se iria passar.

2 comentário(s):

Lobo Solitário disse...

Hum fico ansioso pelo resto, amei o tema.

Ragdoll disse...

:P ainda bem que gostaste. Estou já a trabalhar nos próximos capítulos, por isso o resto deve estar para breve ;p

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