quarta-feira, 2 de março de 2011

Na Crista da Onda - Capítulo 13

As chamas engolem o barco. A explosão encadeia-me os olhos. Dante está de novo nos meus braços. Grito-lhe, suplico desesperadamente que não me morra nos braços. Prometo que vai tudo ficar bem. Os seus olhos ficam vazios de luz, de vida, ele solta o último suspiro e eu grito aos céus o seu nome, pedindo que o devolvam à Terra.
Os meus olhos abriram-se repentinamente, com o abanão de alguém que se encontrava ao meu lado. Nunca o vira. Fiquei assustado, olhando em volta. Dante ainda estava sedado. Era de noite, as estrelas brilhavam lá fora. Voltei a olhar para o homem com os cabelos negros curtos. Os seus olhos eram de um azul profundo, como o mar. Tão familiares que me eram aqueles olhos. Espera. Aqueles eram os olhos de Dante. Agitei a cabeça, confuso, pensando que ainda estava a sonhar. Parecia uma versão envelhecida de Dante. Cruzes. só podia ser uma pessoa.
- Estás bem, miúdo? - Perguntou, numa voz calma e segura, com uma ponta de preocupação. - Devias estara  ter um pesadelo, pela maneira como gritavas... ainda acordas Newport Beach inteira com esses berros.
O seu sotaque. Sim. Era ele.
- Sr. Seth? - Perguntei, cauteloso.
- Mm... Sim, sou o pai do Dante. Mas podes tratar-me por John... e tu és...
- Kyle. Kyle Fisher, senho... Er... John.
- Ah, és o namorado do Dante, então.
- O John sabe que o Dante...
- Sim, sempre soube. Ele contou-me. A mãe dele não achou muita piada. Ela acha que o Campeão já se "curou" - ele movimentou os dedos em forma de gancho, metaforizando a palavra "curou", e sorrindo de gozo. - Claro, ambos sabemos que isso não se cura. Não é uma doença.
- As mães são sempre tão complicadas... - Comentei, pensando na minha mãe, que ainda não aceitava a minha orientação sexual.
- Isso é porque elas retratam os filhos como pessoas perfeitas e sem falhas aos olhos da sociedade. Ser homossexual é uma falha aos olhos da maioria da sociedade. Elas sofrem... - Argumentou, sentando-se pesadamente numa cadeira.
- Está a tentar defendê-las? - Testei.
- Não. Estou a justificar a minha reacção inicial. Apesar de saber que isso não serve de justificação. Eu aprendi isso. A Lily, a mãe dele, ainda não descobriu isso. - Fez uma pausa. - E a avaliar pela tua expressão, a tua mãe também ainda não descobriu...
- Pois não... - Lamentei.
- A Annah sempre foi muito conservadora, tal como o pai dela, pelo menos no que toca a certos aspectos.
Ergui a cabeça repentinamente. Aquele homem acabara de falar da minha mãe como se a conhecesse há muitos anos.
- Conhece a minha mãe? - Perguntei.
- Se a conheço? - Respondeu. - Claro. ela não te falou de mim? John Seth? O Basquetebolista...
Aquilo atingiu-me como um comboio. Eu sabia a história do namoro dos meus pais. A minha mãe era a líder da claque de Basquetebol da escola e apaixonou-se pelo capitão da equipa, um rapaz rico. Um ano depois, o meu pai apareceu. O Basquetebolista traiu a minha mãe com uma colega da claque, Lily, a mãe de Dante. A minha mãe terminou o namoro e o meu pai reanimou-a. Eles apaixonaram-se e acabaram por casar. Até então, eu só conhecera o primeiro namorado da minha mãe como Basquetebolista ou traidor. Ou uma junção dos dois articulada por um impropério menos cauteloso.
- Sim... Ela falou de si... - Afirmei, friamente.
- oh, ela já utilizou a junção de basquetebolista com traidor usando palavrões menos próprios, não foi?
Ri-me. Tinha de admitir, ele podia ter magoado a minha mãe no passado, mas era difícil de não se gostar de um homem tão carismático como ele.
- Que é que lhe aconteceu depois disso? - Interroguei. - Depois de a minha mãe o deixar, digo.
- Segui o curso de artes. Trabalho como arquitecto.
- Interessante... Não sabia que as nossas famílias estavam tão interligadas... - comentei, olhando para Dante. - Será que a minha mãe não consegue aceitar o meu namoro com Dante por causa do passado das nossas famílias?
- Ela sabe que o Dante é meu filho e da Lily?
- Acho que não... - Disse eu, pensativo.
- Então não deve ser por causa disso.
Dante começou a acordar. Quando abriu os olhos, ficou surpreendido por ver o pai sentado ao seu lado.
- Hei, Campeão, como vai isso? - Cumprimentou John. - Quase que ias desta para melhor, empalado por uma garrafa de oxigénio, pelo que me contaram, hun?
Ele riu-se, abraçando o pai. A porta deu um estalido, abrindo-se. Olhei para trás para ver quem entrara. Os seus cabelos loiros espetados ainda estavam um pouco molhados do mar. Eu sabia que ele tinha estado no mar porque cheirava a praia, quando entrou. Ergueu uma sobrancelha, confuso.
- John Albert Seth! - Exclamou.
Fechei os olhos, esperando pela discussão eminente.
- Ohohoh, Jonathan Alexander Fisher! - Respondeu John, soltando um riso que me fez lembrar um pai-natal, recebendo o meu pai de braços abertos.
Eu estava confuso, por saber o que tinha ocorrido no passado entre aqueles dois e ver aquela reacção inesperada por parte de ambos. Dante estava confuso por não saber como é que os nossos pais se conheciam e porque é que pareciam ser tão amigos.
- Expliquem-se. - Exigimos em uníssono.
- Contaste-lhes? - Perguntou o meu pai.
- Só ao teu filho. O Dante ainda estava a dormir.
- Ok, então conto eu o resto da história e faço um resumo sobre o que aconteceu há uns anos... - Comentou o meu pai, dirigindo-se a Dante, que ficou ainda mais confuso.

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