segunda-feira, 7 de março de 2011

Na Crista da Onda - Epílogo

- Cuidado! - Avisei, baixando a cabeça, numa tentativa quase vã de me desviar da prancha de Sam.
- Uups! Desculpa! - Exclamou, correndo para o mar.
- Credo, que criança, será que ele tem mesmo vinte e oito anos? - Perguntou Amanda, tocando com a mão na testa.
- Só de corpo, de mente continua uma criança. - Confirmei.
Agarrei na minha prancha, sorrindo-lhe.
- Mas que o diabo o parta... - Comentei.
- ... É bom ser criança! - terminou ela, agarrando também na sua prancha e correndo ao meu lado para o mar.
A sensação das ondas a impulsionarem a minha prancha era incrível. Tão familiar, mas nunca deixava de fazer o meu coração bater mais depressa. Era o meu desporto. Rodopiei no ar, saltando por cima de uma onda. Amanda tentou fazer o mesmo, mas caiu à água, provocando um riso jocoso da minha parte. Quando voltámos à areia, ela ainda me estava a dar chapadas no ombro por eu ter ficado a rir em vez de a ter ajudado.
- Desculpa, mas eu não tenho culpa que tu sejas uma azelha! - exclamei, sentando-me na toalha.
- Bah. Vou mas é comer um gelado, algum de vocês vem? - Interrogou ela.
- Eu vou! - Respondei Sam, correndo para o café.
- Eu não estou com muita vontade para um gelado, vão vocês. - Disse eu, deitando-me na toalha.
Passaram dez minutos e ergui-me, olhando para trás, perguntando-me porque é que Sam e Amanda se demoravam tanto. Soprei quando me lembrei da causa provável: estavam a namorar. Amanda acabara com o seu namorado da adolescência três anos antes. No ano seguinte, começou a namorar com Sam. eles eram feitos um para o outro, disso eu não me podia queixar...
Algo me captou a atenção. Olhei um pouco mais. Era um homem, mais ou menos da minha idade. Estava de costas. Ele parecia-me familiar. Devia ser do cabelo preto. Era comum haver turistas naquela altura do Verão em Newport Beach e todos eles me pareciam cópias uns dos outros. Ele tapou a cabeça com a toalha enquanto secava os cabelos e virou-se de frente para o mar. Pude ver uma cicatriz antiga, que cortava na diagonal uma parte da zona direita do seu peito. O meu coração parou. Desequilibrei-me e coloquei uma mão no chão, fixando-o. Não podia ser. Ele tirou finalmente a toalha da cabeça e fitou-me curioso, com os seus olhos de um azul marinho profundo inconfundíveis. Há onze anos que eu não via aqueles olhos. Primeiro ficou surpreendido. Mas, depois, um sorriso convidativo espelhou-se na sua cara. Levantei-me da toalha e caminhei na direcção dele.
- Dante...? - Perguntei.
- Sim. Já não me reconheces, Kyle? - Perguntou, fingindo indignação.
- Como poderia não te reconhecer? - Repliquei.

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