segunda-feira, 7 de março de 2011

Na Crista da Onda - Capítulo 14

O meu pai terminou a história que eu já ouvira várias vezes. Mas acrescentou que nunca tinha deixado de ser amigo de John, o pai de Dante. Pouco depois, o ambiente pareceu ficar um pouco tenso. Eu não percebia porquê e ninguém me disse. Mas descobri dois meses depois, quando começaram as férias da Páscoa. Eu sentia Dante ficar cada vez mais afastado e não percebia porquê. Estava com medo de o perder. Uma noite, ele ligou-me, convidando-me para ir dar um passeio pela praia. eu aceitei prontamente, descendo a minha rua a correr. Mas a sua cara abalou a minha alegria, pois expressava desconforto  e preocupação.
- Isto já se mantém há meses... Desde o acidente com o Iate... - Comentei. - O que é que não me contaste?
- Eu... Estava à espera do melhor momento... Não sei como te dizer isto...
Ergui uma sobrancelha, cruzei os braços e bati com o pé no chão, marcando um compasso rápido.
- Deita tudo cá para fora, é melhor...
- Eu vou morar com o meu pai.
A frase era simples, mas senti-a como um soco no estômago. Um nó formou-se na garganta, entorpecendo-me a visão. Logo de seguida surgiram tantas perguntas, tantos impropérios para lhe atirar por me abandonar assim. Mas, recordando-me do que lhe dissera quando nos beijámos pela primeira vez, decidi manter-me fiel à promessa que lhe fizera de tentar compreender se ele fosse viver com o pai para o Canadá.
- Mas apenas diz-me, porque é que o vais fazer? - Perguntei.
- O meu pai está doente, Kyle... Tem um aneurisma que está num sítio onde não pode ser operado. Aquilo pode rebentar a qualquer momento... Eu quero passar os últimos momentos dele por perto...
Deixei-me cair na areia. Dante estivera internado no hospital duas semanas. Durante esse tempo, o seu pai ficara ao lado dele e convivera comigo. Eu afeiçoei-me rapidamente a ele. Tinha-se tornando um amigo para mim, um irmão mais velho. Em tão pouco tempo... E agora, podia morrer a qualquer momento... Senti os braços de Dante rodearem-me. Estava a chorar. Abracei-o também e beijei-o para o acalmar. Ele correspondeu ao beijo com desejo, acariciando-me a cara com uma mão e percorrendo as minhas costas com a outra. Senti a minha pulsação aumentar, há medida que me deitava na areia, com Dante por cima de mim. Ele puxou-me a camisola, e eu tirei a dele. Pouco depois estávamos nus na areia. Foi o melhor momento da minha vida e também o pior, por saber que ele estaria longe de mim nos próximos tempos. Passei as minhas mão pelo seu peito, enquanto o sentia dentro de mim. Gemi de prazer, e tentei alcançar a sua cara para o beijar de novo. Foi um beijo amargo de despedida. Só queria que aquele momento durasse para sempre, que ele não tivesse de ir embora. mas eu compreendia a sua situação e comecei a pensar que faria o mesmo no lugar dele.
Vestimo-nos de novo, mas voltámos a deitar-nos na areia. Adormeci com a minha cabeça sobre o peito dele, com o braço debaixo da cabeça dele. O som dos batimentos do seu coração entre-cortados pelas ondas do mar preencheram os meus sonhos durante essa noite.
Acordei com os primeiros raios de sol. A pele de Dante estava quente. Beijei-lhe o pescoço, depois o queixo e de seguida os lábios. Ele já estava acordado e correspondeu. Quebrei o beijo e mantive a minha cara perto da dele, fitando-o. Ele deixou escapar um sorriso melancólico.
- Amo-te, sabes? - Sussurrou. - E mata-me saber que vou ter de estar longe de ti...
Encostei a minha testa à dele.
- Eu também te amo. - Afirmei. - E é por isso que sei que vamos continuar em contacto.
- Sim. Mas agora tenho de ir acabar de fazer as malas para apanhar o próximo avião...
Levantei-me lentamente, olhando o nascer do Sol sobre o mar. Eu sempre vivera em Newport Beach, mas aquela era uma imagem que sempre me enchera de ternura. Era poético. Acompanhei Dante até casa e depois até ao Aeroporto. Já me parecia uma memória tão distante, a primeira vez que o vira a caminhar na minha direcção na praia. Mas a lembrança que mais distante me parecia era a de nós dois, sentados na minha cama. Ele a dizer-me que a única coisa que o impedia de se ir embora para casa do pai era o que sentia por mim. O nosso primeiro beijo. Agora o que sentia pelo pai dele impedia-o de ficar. Mas isso não significava que não sentisse o mesmo por mim. Era o pai dele. Eu não conseguiria combater pela atenção de Dante contra o seu próprio pai.
O avião levantou voo com um som grave e retumbante. Naquele pássaro de ferro ia o meu coração, as minhas memórias, os meus sentimentos, o meu amor. Naquele pássaro de ferro ia Dante. O meu namorado.

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