Era o último dias de aulas. A grande maioria das pessoas estava no exterior, em actividades extra-curriculares, ou a organizar uma festa de natal. Escapuli-me para o auditório como sempre costumava fazer. Desta vez chegou-me aos ouvidos o som de piano, e de alguém cantar. Abri a porta lentamente.
- Unspoken, in silence. Let's stay here tonight, there's no reason to ask me, 'cause you know what's inside. Don't worry now, seasons will change. Forgive my mouth, not letting you walk away
Era o Daniel. Estava a cantar uma das minhas músicas preferidas. Acompanhei-o no refrão.
- Take your love, bring it back, bring it back. Think before you leave. I forgot what love is, bring it back. Tell me that you believe what fate's been telling me
Quando a canção acabou, ele olhou para mim, desviando o olhar de seguida para o chão.- Vejo que andaste a trabalhar nas canções que exprimem o que sentes... - comentei.
- sabes... Já há muito tempo que não faço algo que ninguém sabe que gosto de fazer... - Contou.
- E que é que gostas de fazer que já não fazes há muito? - Perguntei curioso.
- Mmm... - hesitou - É difícil admitir isso, mas gosto de te ouvir cantar...
Encolhi a cabeça para trás, surpreendido com aquela frase. Ele olhou-me com os seus olhos verdes perfurantes. Estremeci, quando senti o meu coração parar. Gaguejei, perguntando se ele estava a falar a sério.
- Claro.
Olhei para a guitarra que estava encostada ao piano. Peguei nela e comecei a tocar uns acordes.
- I wake up, put my poker face on. It's roughly the same hand I was dealt yesterday. I stand up and stare out at the skyline. It's roughly the same town that I saw yesterday. Living doesn't come first try, It takes a lifetime getting it right. It takes a lifetime to learn how to sing, to find my place in the world's symphony, to become the man today, he man I thought I could be. It takes a lifetime, It takes a lifetime.
Ele ficou a ouvir, sem se mexer. Quando terminei, ele aproximou-se.- Tenho de te agradecer... - disse.
- Pelo quê? - interroguei.
- Por me teres mostrado como a tua perspectiva do mundo da música é tão diferente da minha...
Ele estava mais perto de mim do que jamais estivera. Sentia o meu coração bater acelerado. Ele olhou para mim. Parecia confuso.
- Que se passa? - Perguntei a medo.
- Oh nada. Nada.
- Estás a tentar convencer-me a mim ou a ti próprio que não se passa nada? - Interroguei.
- Pára com isso! - Exclamou, irritado.
- Com o que? - Repliquei, confuso com a sua mudança de atitude.
- Com isso que fazes, de me entender, de saberes o que pensas de não me saires do pensamento! - Gritou, saindo de rompante do auditório.
Eu fiquei ali parado, de boca escancarada, a olhar para o meu reflexo no piano. O reflexo de Quica aparecu junto ao meu.
- O que foi aquilo? - perguntou, tão estupefacta como eu.
- Isso é o que gostava de saber... - comentei.
- Ele acabou de dizer que não lhe saías do pensamento... - repetiu ela.
- Eu... Eu sei... É melhor ir falar com ele. - disse, saltando do banco e caminhando para a porta.
Encontrei-o num parque que havia ali perto. Estava sentado, pensativo, num banco escondido por trás de uns arbustos. Sentei-me ao seu lado em silêncio.
- Desculpa... Pelo que quer que eu tenha feito de que não gostaste... - Comecei.
- Não... Desculpa eu, por te ter dito aquilo... Eu não te devia ter sito o que disse...
- Porque era ofensivo ou porque não querias que eu soubesses o que tu sentes? - Interroguei.
Ele sorriu, melancolicamente.
- ahhh... Um pouco dos dois... Eu estou confuso, Martim... - Confessou. - Eu nunca me tinha sentido assim por ninguém... Muito menos por outro rapaz...
Peguei-lhe na mão com as minhas. Ele olhou para mim, com uma expressão triste. Percorri o seu braço com a minha mão direita, acariciando-lhe a cara. Aproximei a minha cara da dele. Os seus olhos fecharam-se. Pude sentir a sua respiração leve e acelerada. Os nossos lábios tocaram-se, primeiro suavemente, depois com carinho e desejo. As nossas bocas abriram-se ligeiramente, em simultâneo. Os meus sentidos ameaçaram falhar quando as nossas línguas se tocaram, consumando o nosso primeiro beijo.
2 comentário(s):
YUUUPIII estou tão contente por finalmente o Martim ter quebrado o gelo!
haha mas as coisas ainda não acabam por aqui ;p Keep following :P
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