- É como nós ensaiamos todos os dias desde há um mês, Carlos! Tende calma. – Pediu Luís Afonso. – Eu chegarei perto do rei e informá-lo-ei de que há um pretendente ao trono que o povo prefere. E acrescentarei que a única forma de ganhar a confiança da população é deixar para trás os desejos de batalha.
- Sim, mas Afonso, e se ele descobre que sou e me quiser matar!
Luís Afonso aproximou-se do outro jovem, segurando-o pelos ombros.
- Não agoures! Além disso, Sebastião tem tanta confiança em vós que nunca desconfiará!
Carlos olhou para o chão, tentando recuperar a compostura. De seguida, olhou aqueles olhos azuis penetrantes. A luz do sol fazia com que eles brilhassem intensamente. O seu peito apertou-se, suprimindo desejos que o assustavam. Mas tão perto de Afonso, pouco conseguia fazer para resistir ao impulso de tocar aquele lábios carnudos e avermelhados. Luís apercebeu-se que algo se passava com Carlos. A sua sobrancelha esquerda ergueu-se, interrogativa. Carlos aproximou-se, tocando com os seus lábios nos de Afonso, primeiro ligeiramente, depois, com paixão e fervor. Luís Afonso afastou-se surpreendido. Carlos ficou de queixo caído.
- Oh… eu… Desculpai-me… Não sei o que me passou pela cabeça…
Ele retirou-se, apressadamente, deixando o banqueiro especado, a olhar para o sítio onde antes estavam o homem que o beijara. Na sua cabeça, a confusão instalara-se.
- Madame, creio que os seus feitiços não estão a fazer efeito! – Exclamou o rei Filipe.
- Oh, minha alteza, tereis de ser paciente. Dizem-me as estrelas que Sebastião há-se ir para a guerra. A não ser que os conspiradores tenham sucesso…
- Que dizeis? – Perguntou o Rei, aproximando-se dela.
- Sebastião está destinado a perder,
Mas não necessariamente a perecer.
Se o conspirador dos mouros o salvar,
No nevoeiro o jovem rei vai retornar.
- Deixai-vos de trocadilhos e dizei-me o que significa isso!
- Há gente no palácio que finge conspirar contra o rei. Se Sebastião seguir as palavras deles, irá para a batalha, mas retirar-se-á a tempo de sobreviver. No entanto, se ele fizer ouvidos de mercador ao que os amigos lhe dizem, Sebastião será morto pelos mouros. Teremos de esperar pela manhã de nevoeiro do dia seguinte para sabermos o que realmente se passou. Se o rei aparecer na penumbra, Espanha está condenada a não conseguir governar sobre Portugal.
O rei contorceu-se, desconfortável, não só com o mau hálito da mulher, como também pelas informações que ela lhe dava. Parecia-lhe cada vez mais difícil obter o poder do trono Português, apesar de ter familiares originários desse reino.
- E os seus feitiços…?
- Correm como cavalos, silenciosos como o vento. A maldição foi lançada e Sebastião morrerá.
1 comentário(s):
Estou a amar. CONTINUA!
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