terça-feira, 12 de abril de 2011

A Minha Melodia 2: Subida ao Topo - Capítulo 4

- Hugo Alexandre, estás doido! – Trovejou.
- Não, ele é que quer que eu lhe parta a cara toda! Eu vou… - Olhei para o homem que me puxara para fora da confusão.
Estávamos numa sala de aula. Agitou o seu cabelo castanho, ao olhar à sua volta. A porta abriu-se e uma mulher entrou, também ela com cara de poucos amigos.
- Cristo, o que é que aquele tipo disse para te fazer perder o controlo dessa maneira? Conheço-te desde bebé e nunca te vi perder as estribeiras daquela maneira! – Exclamou ela.
- Ele chamou-me filho de veados, tia! – Respondi.
- Aquele filho da mãe! – Rosnou o homem, começando a correr na direcção da porta.
- Speedy! – Gritou a mulher. – Tem calma!
- Quica?! Tu ouviste bem o que ele chamou ao Daniel e ao Martim? – Replicou.
- Sim. Mas sou eu que lhe vou partir aquela cara de porcelana! – Rosnou, fechando a porta atrás de si.
Speedy seguiu-a. Eu corri atrás deles, puxando-os pelos braços.
- Ok, tio, tia! Não preciso que fiquem com um cadastro de tentativa de homicídio por minha causa! – Supliquei.
- Tentativa? – Disse Speedy, indignado. – Achas que não o conseguíamos matar, hun?
- Sim, vou torcer-lhe aquele pescoço de galinha como se fosse um galho! – Guinchou Quica.
- Vocês vão é acalmar-se! – Ordenou a voz de Daniel, vindo do corredor. – E tu, menino, tens muita coisa a explicar! Para o gabinete da directora, já! O teu pai já lá está à tua espera para falarmos com a Julie!
Estremeci, seguindo-o sem hesitar. Era muito raro que os meus pais se zangassem comigo, mas Daniel era o tipo de pai que se conseguia distanciar da relação que tinha com o filho, por momentos, para me meter medo. Os meus tios olharam-me, também eles a temerem por mim. Bom, eles não eram meus tis de sangue, já que não tinham parentesco com nenhum dos meus pais, mas eles tinham estado presentes na minha vida desde sempre, devido à amizade que tinham forjado com Martim, na altura em que andavam na Academia.

O Gabinete da directora fazia-me lembrar uma pequena biblioteca. À secretária, estava sentada uma mulher que eu já bem conhecia: Julie. Noutros tempos, ela fora uma rival dos meus pais, mas sempre conservara uma amizade com Daniel, que abriu portas a uma relação amigável com Martim.
- Agora, vais contar-me o que se passou? – Perguntou-me, num suspiro. – Não creio que os teus pais te tenham educado para andares aos socos em plena Academia.
- Podes crer que não, Julie! – Exclamou Martim, cruzando os braços.
Reparei num vulto a um dos cantos, sentado numa cadeira. Era Xavier.
- Eu tive motivos para o fazer… - Resmunguei.
- Que foram… - Disse ela.
- Nada justifica o que fizeste. – Murmurou Daniel.
- Ele… - hesitei, olhando para Xavier e depois para os meus pais.
- Ele o quê? – Perguntou Julie.
- Ele insultou os meus pais…
- Oh, e por causa disso vais dar-lhe um soco! – Exclamou Martim.
- Mas ele ofendeu-vos! – Repliquei.
- E achas que não vivemos com isso toda a nossa vida? – Cortou Daniel. – Desde que eu e o teu pai começámos a namorar, sempre ouvimos bocas e insultos ofensivos, e não foi por isso que andámos ao soco a tudo o que se mexia!
- Talvez por causa de não responderem ao que diziam é que as pessoas não mudam de mente! – Argumentei.
- É assim que começam todas as guerras, Hugo. – Defendeu Martim. – Uns dizem mal, e os que se sentem ofendidos começam a contra-atacar. Não há motivos que justifiquem o que fizeste.
- Mas dadas as circunstâncias… - interrompeu Julie. – Vou atenuar um pouco a minha sentença… Não te vou suspender da Academia, Hugo, mas vais ter de cumprir um castigo, que te será divulgado após discussão com os teus pais. Podes ir.
Saí do gabinete em passo lento, pensando no que tinha sido dito lá dentro.

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