O monsieur Valentim e a madame Lucinda são duas pessoas surpreendentes. Brincalhões, simpáticos calorosos. Ficaram encantados ao saber que sou um chef. O jantar passou-se assim, com aquele clima ameno e, ao mesmo tempo, tenso para mim e Miguel.
- Então, o Miguel contou-me que se conheceram há pouco tempo. – Comenta ela. – O Miguel disse-me que passam algum tempo juntos. É bom saber que ele está a fazer amigos aqui em França.
- Na verdade mãe, há algo que te quero contar. – Miguel falou na sua língua nativa, sem que eu perceba pouco mais do que algumas palavras.
Ele continua a falar e ouvi a palavra “gay” a meio de uma frase. O silêncio instala-se. Olho para o prato, picando uma ervilha abandonada. Senti os olhos deles em cima de mim. Senti o meu mundo em suspensão.
- E porque é que não contaste antes? – Pergunta Lucinda. – Quer dizer, eu já sabia, desde que eras muito novo, mas preferia que fosses tu a dizer-me, não te queria pressionar.
Eu e Miguel entreolhamo-nos, surpreendidos.
- Espero que não o magoes! – Avisa Valentim, apontando o garfo ameaçadoramente na minha direcção, soltando de seguida uma gargalhada que me fez lembrar um velho de barbas brancas e vestes vermelhas.
Se ele soubesse o filho que tem… Que já partiu muitos corações. Felizmente, sinto-me bem com Miguel agora e não creio que ele me faça isso.
- Claro! Não o farei, pelo menos não propositadamente. – Afirmo. – No entanto, somos humanos e eu não sou perfeito. A vida é um jogo de riscos.
Eles parecem ficar satisfeitos com a minha filosofia. O resto do jantar foi bastante agradável. Lucinda e Valentim contaram histórias de infância de Miguel, que me fizeram rir. Ele ficava vermelho a cada minuto que passava.
Olho para o relógio. É quase meia-noite. Sento-me no sofá desconfortável do meu apartamento.
- Já lhes disse que podiam ficar com a minha casa só para eles, que vou passar aqui a noite. – Informa Miguel, começando a desabotoar a camisa.
- Mm… Precisas de ajuda com isso? – Interrogo, trincando levemente o lábio.
Ele caminha para mais perto, colocando-se de joelhos em cima do sofá, à minha frente. Abro a camisa, beijando-lhe o peito enquanto lha tiro. Percorro o seu pescoço com os meus lábios, mordisco-lhe a orelha e oiço-o soltar um suspiro de prazer. Ele desabotoa-me a minha camisa, rapidamente. Estou prestes a desapertar-lhe o cinto quando a campainha toca.
- Eu… Não… Acredito… Nisto… - Digo, interrompendo a frase com beijos.
- Deve ser a minha mãe ou o meu pai… - Comenta, levantando-se.
Abre a porta.
- Esqueci-me de te dar aquele presente que queria quando aqui… - Começa a voz de Lucinda, em português. - Oh, deuses, não é a melhor altura, pois não, filho?
- Nem por isso, mamã… - Responde ele, na mesma língua.
Trocam mais algumas palavras e ela volta para o outro apartamento. Miguel senta-se ao meu lado no sofá. Eu encosto-me a ele, pousando a minha cabeça no seu ombro, sentindo-o acariciar-me os cabelos com uma mão. Entrelaço os meus dedos na sua mão livre e dou-lhe um beijo na base do maxilar.
- Podíamos ficar assim o resto da noite… - Comenta.
- Sim. – Confirmo, fechando os olhos.
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