Olhei para o palco do auditório. Já algumas pessoas se juntavam para a reunião do CAP, o Clube das Artes de Performance. Gustavo Afonso era o energético coordenador do clube durante esse ano.
- Hugo, já cá estás, acho que então não falta ninguém… - Disse, cumprimentando-me. – Mas temos este ano um convidado que nos quis ajudar. Muitos de vocês já o devem conhecer… O seu nome é Xavier Van Lars!
Ouviram-se guinchos agudos quando ele subiu ao palco. Revirei os olhos e cruzei os braços.
- Bem, acho que posso começar por uma pequena apresentação? – Começou.
Dirigiu-se à aparelhagem e pôs um CD a tocar. Pouco depois, Catarina, a rapariga de cabelos pretos que desafiara os meus pais a cantar, que também pertencia ao clube, pareceu reconhecer a música. Ela levantou-se, começando a cantar.
- Ah! – Respondeu Xavier, surpreendido.
- I can do anything better than you.
- No you can’t
- Yes I can
- No you can’t
- Yes I can, Yes I can.
- Anything you can be I can be greater sooner or later I’m greater than you.
Não consegui resistir ao riso que me foi provocado, não só pela letra do musical Annie Get Your Gun, mas também pelos gestos com que eles interpretavam o tema. No final, receberam um aplauso, que, tive de admitir, foi bem merecido.
- Um óptimo exemplo de um dueto. – Elogiou Gustavo. – Será que mais alguém tem a coragem de vir aqui para cima, cantar uma música que reflita a sua personalidade?
Ninguém se ofereceu. Eu estava pensativo e ergui-me de repente.
- Oh, eu sei de uma com que me identifico! – Exclamei, correndo para cima do palco.
- Eu sabia que te ias lembrar dessa… - Comentou Beat, tirando um CD da mochila.
- Ainda bem que me conheces! – Respondi.
Ele pôs a música a tocar, e eu comecei a cantar, sorrindo.
- Who's to say What's impossible
Well they forgot
This world keeps spinning
And with each new day
I can feel the change in everything
And as the surface breaks reflections fade
But in some ways they remain the same
And as my mind begins to spread its wings
There's no stopping curiosity
I wanna turn the whole thing upside down
I'll find the things they say just can't be found
I'll share this love I find with everyone
We'll sing and dance to Mother Nature's songs
I don't want this feeling to go away
Well they forgot
This world keeps spinning
And with each new day
I can feel the change in everything
And as the surface breaks reflections fade
But in some ways they remain the same
And as my mind begins to spread its wings
There's no stopping curiosity
I wanna turn the whole thing upside down
I'll find the things they say just can't be found
I'll share this love I find with everyone
We'll sing and dance to Mother Nature's songs
I don't want this feeling to go away
Recebi os aplausos com uma vénia.
- Muito bem, parece que este ano estamos em forma para a Batalha de Clubes… - Disse Gustavo.
O resto do tempo foi passado a planear que músicas haveríamos de cantar para o tal duelo.
Nessa tarde, fui um pouco mais bem-disposto para as limpezas do fim do dia. A melhor parte? Faltava apenas meia semana para acabar o castigo. Desta vez, eu e Xavier tínhamos começado a limpar salas diferentes, mas acabámos por nos encontrar numa das divisões. Enquanto eu limpava a mesa, ele queixava-se da sala que tinha limpado antes.
- Eu nunca mais vou atirar papéis na sala de aula! É terrível varrer uma sala inteira!
- Se cumprisses as regras, talvez fosse melhor! – Repreendi, rindo.
- hei! – Exclamou, dando-me com o pano nas costas.
Eu saltei, desviando-me de uma segunda investida. Pouco depois, estávamos a esgrimir com os pedaços de tecido, caminhando pela sala. Saltei para cima de uma mesa, tentando proteger-me dos seus golpes.
- En garde! – Exclamei.
- Ah, vais perecer sob a lâmina do meu sabre, argh! – Sentenciou ele, com um sotaque de pirata.
Eu ri-me, saltando para o chão. Quando os meus pés tocaram o solo, desequilibrei-me, segurando-me ao braço dele. Pouco depois, estávamos caídos no chão.
- Auch! – Queixei-me, rindo.
Ele estava deitado por cima de mim, também a rir. De repente, o seu sorriso desvaneceu-se, sendo substituído por uma cara séria. Eu fiquei curioso e surpreendido ao mesmo tempo. Estava prestes a perguntar o que se passava quando ele aproximou a sua cara da minha, tocando com os seus lábios nos meus. Eu correspondi, entreabrindo a boca ligeiramente, dando passagem à sua língua, que acariciou levemente a minha. Ele quebrou o beijo, olhando-me. Os seus olhos estavam abertos de espanto.
- Oh não! – Exclamou, levantando-se.
- Xavier?! O que foi? – Chamei, em vão.
Toquei com a minha mão nos meus lábios, ainda sentindo o calor dos dele.
2 comentário(s):
I knew it. Agora o Xavier vai pensar que foi "contagiado"
Terás de continuar a ler para saber :P
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