Um Dia Como Todos os Outros
Uma. Duas. Quatro. Nove. Milhares. Finalmente. As nuvens ameaçam já há algum tempo despejar a sua carga líquida nas ruas Londrinas escuras. Mas aquele beco, outrora enegrecido pelas trevas, é agora iluminado pelas berrantes luzes vermelhas e azuis dos carros da Polícia. A fita amarela com letras pretas dava a mensagem de passagem proibida. Um detetive, meu parceiro, aproxima-se, vindo de um dos carros que acabara de chegar.
- Bom dia, Karen. - Cumprimenta, amigavelmente.
- Olá, Marshall. - Respondo, aceitado o copo de café que me oferecia.
Quando era nova, sempre preferira o chá. Muito britânico. Mas desde que Ryan Marshall, americano de nascença, começou a trabalhar comigo, tenho bebido mais café. Ajuda-me a não adormecer quando tenho casos para tratar a altas horas da noite. Lanço um olhar ao médico legista, que me revela o que está escrito nos papeis que tem na mão.
- Vítima do sexo feminino, entre os vinte e cinco e os trinta anos, morreu estrangulada, com ferimentos que indicam uma luta contra o atacante... Ah, e tem um traumatismo post mortem, o que, juntamente com o facto de não haver aqui sangue nenhum, indica que o corpo foi removido do local original do crime.
- Temos de nos apressar, antes que a chuva apague as provas. - Comenta Marshall, com o seu sotaque americano, dando-me passagem por entre dois veículos.
A mulher é loira, e está deitada de cabeça para baixo. Um dos seus braços repousa de uma forma retorcida em cima das suas costas, mostrando alguns cortes profundos, mas limpos. Agacho-me, colocando a luva fina de borracha.
- Tudo de acordo com o relatório... - Informo, virando a cara da vítima.
Os seus olhos verdes vidrados são perturbadores. Nunca me habituei aos olhos dos mortos.
- Provavelmente foi violada durante a noite. - Diz Marshall, olhando para o céu e estremecendo. - Odeio o vosso tempo.
- Eu também. - Retorquo, analisando a garganta da vítima. - Parece que tem a garganta inchada... Pode ser a causa da asfixia...
- Talvez seja melhor esperarmos pela análise do médico Legista, não?
- Espera, acho que consigo puxar... - Afirmo, pondo os dedos dentro da boca do cadáver.
Sinto algo fino tocar-me os dedos. Agarro-o e puxo. Parece um fio grosso, verde. O caule de uma planta? Espinhos cobertos de sangue coagulado surgem. O meu coração bate acelerado. Não pode ser. Não. Depois de tanto tempo. Não pode. Finalmente, o caule revela-se ser de uma rosa. Mas não uma rosa qualquer. Uma rosa negra, de pétalas cuidadas. Se não é ele, é um copiador, mas dos bons.
- Marshall...
- Isso é o que estoua pensar Karen...? - Interroga.
- Sim... Liga para a sede. - Ordeno. - Diz-lhes que o Assassino da Rosa Negra está de volta.
O caos instala-se no edifício da New Scotland Yard. O departamento onde trabalho está agitado, como há muito já não o vira. O vil Assassino da Rosa Negra está de novo ao activo. Seis anos antes, durante cinco anos, duas vezes por mês, aparecia o corpo de uma jovem vítima, morta por estrangulamento, com uma Rosa Negra entalada na garganta. Nunca houve vestígios, e muito poucas pistas foram encontradas que apontassem para o Assassino. Tornou-se um dos mais temidos Serial-Killers, não só pela população, como também pela Scotland Yard. Marshall está neste momento a ligar à mulher dele. Ela encaixa no padrão do assassino. é loira de olhos verdes. Só uma das vítimas escapou ao normal. Encontrámos uma mulher de cabelos negros, morta nas mesmas condições, com a Rosa Negra na garganta. Mas ela fora uma lutadora. Era uma ex-marine, que lutou bastante contra o assassino. A única coisa que conseguimos foi um pedaço de papel com um número incompleto. Então, deu-se o intervalo de um ano. Pensámos que talvez ele fora ferido em combate e tivesse morrido, na melhor das hipóteses. Ou ficado inválido. Mas pelos vistos, tal não tinha acontecido. Ele voltara. Cinco longos anos procurei por ele, sem nenhuma pista. Mas desta vez, eu estava com o pressentimento que conseguiríamos descobrir algo.
- Já avisei a Tara. - Informa Marshall, guardando o telemóvel. - Ela vai levar o Cory para casa da mãe dela.
- Sim, o melhor é deixarem o vosso filho num local onde não corra risco... - Concordo. - Espero que voltem depressa os testes ao corpo... Acho que vou passar lá por baixo para dar uma olhada aos pertences da vítima, vens comigo?
- A caminho, vou só fazer mais um telefonema. - Avisa, agarrando no telefone fio da sua secretária.
- Vais ligar à amante? - Gracejo.
- Com um serial-killer à solta mas mantens o sentido de humor, hun? - Ri-se, revirando os olhos.
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