terça-feira, 5 de abril de 2011

A Maldição - Capítulo 6

- Tendes noção do que me dizeis, Luís Afonso! – Exclamou o rei. 
- Sim, alteza… Mas se vós deixardes para trás esta ideia suicida, talvez o povo deixe de preferir o outro herdeiro… 
- Chamem o Carlos Jorge de Avis, já! – Ordenou Sebastião, já vermelho de raiva. 
O coração de Luís acelerou. 
- Porque quereis que ele esteja presente, majestade? – Interrogou. 
- Porque ele é o filho bastardo de meu pai! 
Luís Afonso sentiu as pernas fraquejar e um nó formar-se no seu estômago. 
- Tendes a certeza? 
- Sim, foi a mãe dele que me contou, pouco antes de falecer! 
Um criado apareceu acompanhado de Henriqueta e de Carlos Jorge. Ambos pareciam assustados. 
- Convocastes-me, alteza? – Perguntou o jovem, a medo. 
- Sim. Luís Afonso contou-me que o povo apoia um bastardo e não o seu rei legítimo. Acaso sabeis quais as vossas verdadeiras origens? 
- Majestade… - Começou. 
- E espero que não me mintais! – Trovejou o Rei. 
- Sim, senhor, sei quais as minhas origens… e tenho-o sabido desde há um mês para cá. 
- E dissestes isso ao povo?! – Interrogou. 
- Obviamente que não, pois não ganharia nada com isso. 
- Amanhã parto para África e não quero que o meu reino me vire as costas enquanto estiver fora! – Comentou o rei. – Devia condenar-vos por traição! 
O Cardeal D. Henrique moveu-se, por trás do trono. 
- Sebastião, meu filho, tal não é necessário. Estes dois jovens estão apenas a tentar salvar-vos a vida. 
- Que dizeis, tio? 
- Eles queriam demover-vos de ir para África. Todos temos um mau pressentimento acerca de tal viagem e tememos que não volteis vivo dessas terras de além-mar. Por isso inventaram esta história de o povo estar a favor de Carlos… São boas intenções, e eu próprio conhecia o plano. 
Sebastião observou a sala. 
- Retirai-vos, que quero falar com meu tio a sós. 

Luís Afonso encontrou Carlos a tratar do cavalo que nascera alguns meses antes, nos estábulos do palácio. Assim que o viu, suspirou de alívio. Carlos olhou-o, corando. Luís Afonso aproximou-se e tirou-lhe a escova que ele tinha na mão, segurando-o pela cintura e fechando os olhos e encostando a sua testa à de Carlos. 
- Temi tanto por vós… - Murmurou Afonso. 
- A sério…? – Gaguejou Carlos. 
Afonso olhou em volta, verificando se estavam sozinhos. 
- Sim… na minha cabeça, apenas dizia que era pecado amar outro homem como eu, mas o meu coração é mais forte, e quase parou quando Sebastião vos ameaçou de morte… Se é pecado, então que Deus me mande para o Inferno, que me tornarei mártir a sofrer uma eternidade por ter seguido o amor de que ele tanto fala nas escrituras… 
- Porque não vos calais e apenas me beijais?! – Interrogou Carlos, aproximando a sua cara ainda mais da de Afonso. 
Os seus lábios voltaram a tocar-se, apaixonadamente. As suas línguas acariciavam-se mutuamente, passando pelos lábios um do outro, expressando o amor que sentiam naquele momento. As mãos de Afonso percorreram o colete de Carlos, desapertando-o, enquanto as de Carlos percorriam as costas de Luís Afonso e lhe passavam pelo seu negro cabelo macio.

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