quinta-feira, 21 de abril de 2011

O Rapaz Da Casa Amarela - Livro II - Capítulo 2

Um Anjo no Meu Quarto
Não consigo dormir, apesar de a noite já ir alta. Os grilos cantam incessantemente. Ouço um mocho piar, e decido levantar-me. É uma típica noite quente de Verão. Ponho-me à janela a olhar para as estrelas. Aqui parecem tão brilhantes, nada como em Lisboa, onde o céu se põe negro assim que o Sol se aposenta para dar lugar à Lua que brilha tenuemente. Suspiro, pois é a única coisa que posso fazer por aquele rapaz que me tira o sono. Fecho os meus olhos. À minha volta, a casa transforma-se, relutantemente. Se não o posso ter na minha vida real, pelo menos no mundo de fantasia que ele me ajudou a criar, tê-lo-ei nos meus braços. Sento-me no parapeito da janela, que se torna um banco de jardim. Ao meu lado, imagino-o, com os seus braços musculados, os seus abdominais definidos, envolvendo-me em tronco nu num abraço caloroso. A sua voz chama por mim, primeiro baixo, depois num grito reprimido. Espera... É mesmo ele que me está a chamar.
- Quim, o que é que estás a fazer aqui? - Pergunto, num sussurro.
- Queria ver-te... - Informa. - Vou subir.
Observo-o a trepar pelo carvalho que se ergue perto do meu quarto. Ele tenta chegar perto da janela por um dos ramos, mas nenhum lhe dá um caminho, por isso salta, segurando-se ao parapeito, que protestou sob o seu peso. Ajudo-o a erguer-se para dentro do quarto. Ele olha para mim, de cima a baixo e começa a ficar vermelho, tentando balbuciar algo.
- Que se passa? - Interrogo.
Ele aponta para a minha cintura. É então que percebo. Estou em boxers por causa do calor que se faz sentir nesta altura do ano. Ponho as minhas mãos em frene ao meu corpo, tapando a roupa interior.
- Oh, desculpa, não me lembrei que estava nestes preparos... - Comento, caminhando em direção à cómoda.
Entre mim e a peça de mobília, está aquele corpo entroncado que me faz gravitar para si mesmo. Quim prende-me gentilmente o braço quando passo perto dele, puxando-me para mais perto de si. Ele beija-me calorosamente, passando a sua língua pelos meus lábios. Segura a minha cara com ambas as mãos, e murmura, com a respiração ofegante.
- Não conseguia estar mais longe de ti. Tive de vir.
Volta a beijar-me e eu deixo-me levar. As minhas mãos percorrem as suas costas, sentido as pequenas cavidades que se formavam junto aos ombros, sentido o relevo da sua cicatriz por baixo da camisola negra fina. Finalmente, as minhas mãos chegam à sua cintura, e puxam o tecido para cima, para o despir. Ele ergue os braços, ajudando-me, e envolve-me de seguida com eles. Batalho um pouco com o cinto dos seus calções, mas com a ajuda das suas mãos consigo também despir-lhos. Ele caminha para a cama, e faz-me deitar em cima dela, ficando por cima de mim. As minhas mãos acariciam cada músculo do seu corpo, sentindo cada centímetro de pele quente debaixo das pontas dos meus dedos. Ele encosta-se mais a mim, tornando a minha respiração ainda mais ofegante. Giramos sobre nós mesmos. Agora estou eu no topo. mordisco-lhe a base do pescoço, junto ao ombro, e desço com os lábios junto à sua pele morena ardente. Tiro-lhe os boxers e beijo-o nas pernas, voltando a subir, roçando o meu corpo no seu pénis erecto, provocando-lhe um estremecimento e um gemido de prazer. Ele volta a beijar-me, suspirando o meu nome, enquanto me tira a minha roupa interior. Os seus lábios procuram a minha boca incessantemente. Estico a mão, alcançando a gaveta da minha mesa de cabeceira e tiro de lá de dentro um preservativo, colocando-lho. Ele fita-me nos olhos. No escuro, ele parece ainda mais místico, mais misterioso. Beijo-o levemente, esperando senti-lo penetrar-me. Gemo quando isso acontece, envolvendo-o com os meus braços, puxando-o para mim, beijando-o calorosamente, saboreando os seus lábios com a ponta da língua. Lá está aquele aroma doce a morango de que eu tão bem me lembro, de novo, a invadir a minha boca, o meu corpo. A sua respiração começa a ficar mais alta e mais rápida, à medida que aumenta a velocidade dos movimentos de cintura. Também eu começo a ficar mais agitado, passando as mãos pelo seu corpo, pelos seus músculos, pela sua pele ardente. ele trinca-me o pescoço, e sussurra-me ao ouvido.
- Eu vou... Estou quase a...
- Continua... - Respondo. - Vai até ao fim...
Finalmente, ele liberta um longo gemido, esticando o corpo. Eu fecho os meus olhos, sentindo as mãos dele estimularem a minha glande, culminando num orgasmo que nunca mais esquecerei. Ele deixa-se cair ofegante ao meu lado, e eu aninho a minha cabeça no seu ombro, beijando-lhe o braço. Fico a observa-lo a olhar para o tecto. A sua cara séria transforma-se lentamente num sorriso, e olha para mim.
- Uau... - Murmura.
- Uau. - Concordo, rindo-me baixo e dando-lhe um beijo na base do maxilar.
- Achas que os teus pais ouviram...? - Pergunta, preocupado.
- Não faço a mínima ideia... O quarto deles fica ao fundo do corredor, não devem ter ouvido. - Digo.
- Nunca pensei que fosse tão bom estar assim com outro rapaz... - Comenta.
Desta vez o seu olhar está de novo fixo no tecto, a divagar.
- E eu nunca pensei que fosse assim tão bom estar contigo. - Acrescento, passando os meus lábios pelo seu peito.
Fecho os olhos, ouvindo o som ritmado do seu coração. Os grilos lá for ainda se ouvem. Mas para mim o mundo já não é mais o mesmo. Ele adormeceu. Respira profunda e lentamente, ressonando levemente. Faz lembrar o ronronar baixo de um gato. O seu peito eleva-se com cada inspiração, embalando-me. Observo uma vez mas o seu corpo. Parece vindo de outro mundo. Um Anjo na terra. Talvez afinal eu estivesse errado em achar que Deus me estava a abandonar. O pai Carlos é cristão e acredita que há um ser mais poderoso e sapiente que nós, a observar-nos do céu. Isso contrasta imenso com o facto de ele ser um profissional na área da ciência. Mas o pai Carlos diz sempre: "A igreja e a ciência podem apoiar-se mutuamente, pois não estão uma contra a outra. Quem está contra quem, são os cientistas contra os padres. Como em tudo neste mundo, são os humanos que estão em conflito entre si, não são a igreja e a ciência que se atacam mutuamente.". Por outro lado, o pai Fred é ateu. Não acredita na existência de Deus, mas respeita as crenças de Carlos, e nunca o impediu de me ensinar as doutrinas da igreja. Uma vez perguntei-lhe, sendo ele ateu, porque é que achava bem que o pai Carlos me ensinasse as coisas da Bíblia. A resposta dele deixou-me sem palavras: "Porque quero que tenhas algo em que te apoiar quando precisares. O teu pai Carlos é muito mais forte que eu. Eu viro-me para ele quando preciso de apoio, mas o homem não é para sempre. Carlos, por outro lado, vira-se para Deus quando precisa de apoio e esse, segundo o que ele acredita, é eterno. Se eu perder o teu pai, perco o meu apoio. Se Carlos me perder, continuará com algo onde se apoiar. Eu gostava de ter isso, mas não tenho. Tu no entanto, podes tê-lo.". Eu sempre andei dividido. Havia tantas provas da existência de Deus como da sua inexistência. Mas quando ouvia as pessoas insultarem-me a mim e aos meus pais, eu pensava que se existisse um Deus, que nos protegeria. o pai Carlos também tinha resposta para isso: "Há milhões de seres humanos para um Deus. Se ele só nos protegesse a nós, como poderia ser isso justo? Mas ele protege-nos com os nossos anjos da guarda. No entanto, temos de aprender a viver neste mundo cruel, e a melhor forma de o fazer é enfrentar os males que aqui existem. Nunca culpes Deus pelas acções do homem, pois apesar de tudo temos livre-arbítrio para decidirmos o que quisermos, não somos fantoches às mãos d'Ele". Se não foi Deus que enviou Quim até aqui, bem poderia ter sido, porque me sinto melhor do que nunca. Adormeço com este pensamento na cabeça e um sorriso nos lábios.

2 comentário(s):

Unknown disse...

Quase chorei com a parte final. Amei este capítulo, está espectacularmente bem escrito, este é sem dúvida um dos meus favoritos em todas as histórias que escreveste. A parte que fala sobre religião está linda e dás uma grande lição. Amei mesmo. Peço-te autorização para publicar um excerto no meu blogue, com a referência claro.

Unknown disse...

Claro, estás à vontade, Lobo Solitário. :) Muito do que está escrito neste capítulo é o que eu sinto. Nesse aspecto, já me identifiquei outrora com a perspectiva de Carlos, mas neste momento, penso como o Frederico. De qualquer das formas, tal como ambos, respeito os dois pontos de vista. E volto a dizer, estás à vontade para usar o texto, uma vez que referenciarás a fonte :) E é isso mesmo que eu quero fazer quando escrevo: conhecer e dar a conhecer.

Cheers!=D

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