quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Rosa Negra - Capítulo 2

Beco Sem Saída
- O último número que lhe ligou foi este aqui. - Informa o homenzinho baixo de cabelos escassos.
- Mm... Já contactaram o proprietário do aparelho com este número de telemóvel? - Interrogo.
- Já tentámos, mas parece que era de um aparelho descartável, que já não está ativo... - Revela.
- Então há boas hipóteses de que fosse o Assassino da Rosa Negra a última pessoa a ligar-lhe, correto? - Pergunto, ansiosa.
- Sim. Está aqui a morada da família. Talvez consiga descobrir mais alguma coisa se falar com eles.
Aceito o papel que me dá. O nome da Vítima é Susan Hale. Os seus pais são Mary e Joshua Hale. Olho para Marshall. Ele tira as chaves do carro do bolso e segue à minha frente para o exterior da New Scotland Yard.
A família Hale mora numa pequena casa em estilo francês, rodeada de flores, nos arredores de Londres. Respiro fundo, preparando-me para a carga emocional que é contatar com a família de uma vítima que, provavelmente, ainda não sabe que o seu ente-querido faleceu de forma violenta e humilhante. Marshall pergunta-me educadamente se quero mesmo fazer aquilo.
- Não quero, mas tenho de fazer, faz parte do trabalho. - Comento, abrindo a porta e caminhando para o alpendre.
Marshall toca à campainha. Demoram a responder. Uma mulher de idade avançada, de cabelos prateados e semblante austero abre a porta.
- Que querem? - Pergunta, grosseiramente.
- A senhora é... - Interroga o meu parceiro.
- Meredith Hale, quem quer saber? - Pergunta, esticando o pescoço para admirar o metro e oitenta de Marshall lá do fundo do seu pouco mais de metro e meio.
- Somos do departamento de...
- Somos da Scotland Yard, minha senhora. - Corto, lançando um olhar reprovador a Kyle. - Gostariamos de lhe fazer umas perguntas sobre a Susan.
- A minha neta? Que quer a polícia dela? - Interroga, surpreendida. - Ela é tão boa menina.
O orgulho na sua voz faz-me pesar ainda mais o coração. Nunca aprendi a lidar com esta situação. Ela dá-nos passagem, após mostrarmos os nossos distintivos dourados. Na sala, está um jovem sentado, a assistir à televisão.
- Avó, quem é? - Pergunta, desinteressado.
- São da polícia, querido. Querem fazer perguntas sobre a tua irmã...
- Da polícia? - Diz, erguendo-se.
O seu cabelo é curto e castanho, os seus olhos verdes fazem-me lembrar os olhos vidrados de Susan. Treta, já estou a desenvolver sentimentos pela vítima. Observo o jovem. Ele é entroncado, e veste uma t-shirt verde justa. Militar.
- De que departamento são? - Inquire, desta vez mais interessado. - A minha irmã não fez nada de mal.
- Somos do departamento de homicídios... - Revela Marshall, antes que eu tenha tempo de dizer algo mais. - Temo que a sua irmã faleceu hoje de madrugada, pela uma da manhã, em Londres.
A mulher idosa deixa cair a bengala, pondo a mão no peito. O homem, apesar de em estado de choque, corre a socorrer a sua avó. Depois de lhe trazer um copo de água, pede a Marshall e a mim para falarmos com ele em privado.
- O que é que aconteceu à Susie? - Pergunta, com voz trémula.
- Acreditamos que ela tenha sido assassinada por um serial-killer, a que chamamos o Assassino da Rosa Negra.
- Espera, esse tipo não tinha deixado de matar pessoas há um ano ou assim? - Diz, agitado.
- Sim. - Respondo. - Mas, a sua irmã corresponde ao padrão que ele seguia. E as circunstâncias do crime são as mesmas que outros crimes praticados pelo Assassino da Rosa Negra.
- Só queremos saber se ultimamente a sua irmã tem agido de forma estranha, ou se tem algum inimigo que lhe quisesse mal. - Afirma Marshall.
- Ela... Nestes últimos tempos parecia assustada. Anteontem recebeu um telefonema de um tipo qualquer que a deixou assustada, por isso pedi uns dias para ficar cá em casa com ela, para a proteger. Parece que não... - A sua voz falha-lhe, e os seus olhos húmidos deixam escapar uma lágrima que lhe corre por cada face. - Parece que não serviu de nada...
Acabamos por nos despedir dele, já que não conseguimos mais nenhuma informação relevante, para além de que a Susan se dava bem com toda a gente que conhecia. Mas, a mim parece-me que o Assassino da Rosa Negra deve estar desesperado por não matar há tanto tempo. Não era hábito dele ligar às vítimas antes de as matar. Sento-me ao volante, pensativa.
- Queres que eu conduza? - Oferece-se Marshall.
- Não... Obrigado. - Recuso. - Estava só a pensar... Há algo que não bate certo aqui...
Ligo o motor, ainda a matutar no caso. De algo eu tenha a certeza: o Assassino da Rosa Negra voltou a atacar.

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