As férias de Natal passaram depressa, sem percalços. Quando voltei à Academia, Nádia e Beat foram os primeiros a acolherem-me. As aulas do primeiro dia voaram, chegando a tarde num instante. O castigo de limpar as salas, tornara-se já um hábito para mim, talvez por recordar que fora aquilo que me aproximara de Xavier. Agora todos os dias, eu ficava até mais tarde a ajudar a Dona Aida a limpar as salas.
Enquanto limpava o quadro, ouvi passos atrás de mim.
- Ainda nas limpezas? – Perguntou Nádia.
- Si! – Respondi, com sotaque espanhol.
- E estás a fazer isso porque queres ajudar, ou porque queres recordar? – Interrogou.
- Um pouco dos dois… - Repliquei.
- Não te faz bem continuares a pensar nele… - Comentou. – Devias seguir em frente.
- Eu tento… - Afirmei.
O meu telemóvel tocou. Li a mensagem, sem querer acreditar. Olhei para Nádia, suplicante.
- É ele?
- Sim… Diz que precisa de falar comigo. Quer encontrar-se comigo na biblioteca…
- Grr… Vai lá, eu acabo isto, mas vê lá, tem cuidado.
Sorri, correndo para ela. Dei-lhe um beijo rápido, e corri para o corredor. Ela prendeu-me pelo braço, voltando a puxar-me e beijou-me nos lábios. Olhei-a, estupefacto.
- Ná… Nádia… Eu…
- Ainda sentes algo por ele… Compreendo, só queria que soubesses que tens a oportunidade de seguir em frente.
Sorri, agradecendo e dirigi-me à biblioteca. A divisão estava vazia e escura, à excepção de um canto onde um candeeiro iluminava uma secretária, com uma luz amarelada.
- Primeiro quase me espancas e agora dizes que queres falar comigo. – Digo, frivolamente.
Ele olhou-me. Tinha os olhos vermelhos.
- Oh, o que é que se passou? – Perguntei.
- A minha mãe ontem… Ela teve um AVC, e eu só conseguia pensar em falar contigo… Ela está no hospital, internada, mas ainda não acordou e tenho medo que…
Ele rebentou em lágrimas e eu abracei-o instintivamente.
- Vai tudo ficar bem, Xavier, ela vai acordar em breve… Vai tudo ficar bem. – Murmurei, acalmando-o.
- Como é que consegues fazer isso…? – Interrogou, receoso.
- O quê? – perguntei.
- Conseguires tentar ajudar-me depois do que eu te tentei fazer…
- Porque achei que tínhamos uma ligação… diferente… - Comentei.
- Oh, então e a tua amiguinha Nádia? – Rosnou.
- Isso é tudo ciúmes? – Repliquei, sem obter resposta.
Segurei-lhe nas mãos.
- Xavier… Podes não te sentir pronto para isso, mas quando me beijaste, eu não te obriguei a fazê-lo, apesar de gostar de ti. Foi um ato decidido apenas por ti. E podes querer esconder-te durante o resto da tua vida, mas isso só te vai fazer sofrer.
Ele olhou-me e baixou a cabeça, fitando o chão.
- Eu… Eu não quero ser como ele… Como o meu pai…
- Ele só pecou por ter escondido quem era. – Afirmei. – E isso magoou as pessoas à sua volta.
- Mas eu não me sinto pronto para admitir publicamente que gosto de um rapaz…
- Então não o faças. – Disse. – Poderei ajudar-te, como teu amigo, Xavier, mas não serei mais que isso. Não te quero obrigar a fazer uma decisão difícil, mas também não vou ser mais do que teu amigo, mesmo que queiras ser meu namorado, se não queres assumir-te perante os outros.
Quando acabei, levantei-me e fui-me embora, deixando-o a pensar no que eu tinha dito. Sentia-me mais leve, agora que tínhamos esclarecido o que se tinha passado e sentia-me secretamente contente por ele ter admitido que gostava de mim. No entanto, também me sentia revoltado por ele continuar a querer esconder os seus sentimentos, apesar de compreender as razões por trás de tal reação.
Quando acabei, levantei-me e fui-me embora, deixando-o a pensar no que eu tinha dito. Sentia-me mais leve, agora que tínhamos esclarecido o que se tinha passado e sentia-me secretamente contente por ele ter admitido que gostava de mim. No entanto, também me sentia revoltado por ele continuar a querer esconder os seus sentimentos, apesar de compreender as razões por trás de tal reação.
1 comentário(s):
Tadinho do Xavi... Continua!
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